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Tomografia revela detalhes inéditos de fóssil de dicinodonte encontrado no Brasil

Pesquisadores conseguiram enxergar dentro da cabeça do Rastodon, que viveu há 260 milhões de anos no que hoje é o Rio Grande do Sul.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 26 set 2025, 16h21 - Publicado em 21 set 2025, 08h00

Há 260 milhões de anos, no que hoje é o Pampa gaúcho, um Rastodon procurvidens morreu e ficou eternamente fossilizado no interior de uma rocha. Agora, graças a um “mergulho tecnológico” no interior de seu crânio, cientistas brasileiros estão desvendando os segredos deste herbívoro pré-histórico.

Utilizando tomografia computadorizada de alta resolução, uma equipe da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e do Museu Nacional da UFRJ conseguiu reconstruir em 3D a anatomia interna do dicinodonte, permitindo assim melhores análises da mandíbula e do céu da boca do bicho, algo inédito.

Esses animais eram sinapsídeos, ou seja, faziam parte da mesma linhagem que inclui os mamíferos. Os dicinodontes, no entanto, não eram mamíferos, mas sim “primos”: integravam um ramo diferente e bastante diverso do grupo. Eram caracterizados principalmente pela presença de um “bico” desdentado e duas presas. 

“O Rastodon estava, literalmente, com a boca fechada há mais de 250 milhões de anos. Com a micro-tomografia, conseguimos abri-la e revelar detalhes incríveis da sua história evolutiva”, destaca João Lucas da Silva, autor do estudo publicado no Zoological Journal of the Linnean Society.

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Descrito pela primeira vez em 2016, o Rastodon logo se destacou entre seus parentes. Enquanto a maioria dos dicinodontes exibia presas voltadas para baixo, o fóssil brasileiro apresentava dentes curvados para frente. Esse traço singular levantava dúvidas sobre seu modo de vida e sua posição na árvore evolutiva.

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Mas, até agora, os detalhes de sua anatomia estavam escondidos na rocha. A digitalização em micro-tomografia permitiu aos cientistas enxergar dentro da cabeça do animal. 

“A microtomografia não é uma ferramenta nova na análise de fósseis, mas vem se tornando cada vez mais acessível e com maior qualidade. Funciona de forma semelhante a um tomógrafo médico, usado em exames clínicos, e pode inclusive ser aplicada a fósseis de grande porte”, explica Voltaire Paes Neto, paleontólogo do Museu Nacional, que também participou do estudo.

Fóssil do pequeno dicinodonte Rastodon procurvidens (acima). O crânio era conhecido desde 2016, mas neste novo estudo se revelou todo o esqueleto do animal. No meio, a reconstrução digital em 3D obtida por micro-tomografia que possibilitou ‘abrir a boca’ do espécime. Abaixo, a reconstrução de como seria o esqueleto e a silhueta do animal.
(João L da Silva, Voltaire D P Neto, Christian F Kammerer, Julia L R de Souza, Bruno A Bulak, Marina B Soares, Tiago R Simões, Felipe L Pinheiro/Divulgação)

“No caso de fósseis de pequenos animais, utilizamos o microtomógrafo, que gera imagens em altíssima resolução, permitindo observá-las em três dimensões”, conta ele para a Super

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Esse tipo de tecnologia ajuda a estudar fósseis frágeis e de difícil acesso, sem danificá-los. “É possível, por exemplo, isolar osso a osso, permitindo analisar cada um deles individualmente, algo que não seria possível no crânio completamente articulado, onde não se pode nem pensar em remover um osso”, contou João Lucas da Silva à Super.

A análise histológica do Rastodon mostrou que o espécime era um jovem adulto e, assim como de costume na espécie, de pequeno porte. 

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Além disso, a pesquisa ajudou a reposicionar a espécie entre os dicinodontes que escavavam tocas no solo, uma adaptação crucial para sobreviver às condições extremas que precederam a maior extinção em massa da história: a crise Permo-Triássica, momento em que o Planeta passava pela formação do Pangeia.

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Silva ficou surpreso ao ver a anatomia da mandíbula, “especialmente a fenestra mandibular [uma abertura na lateral da mandíbula], que tem a morfologia muito similar ao que se vê em alguns dicinodontes da África do Sul”. Essa característica fez com que a desconfiança dos pesquisadores de que a espécie estivesse mal classificada aumentasse.

Pane no sistema

Para entender a confusão, é necessário um pouco de contexto: as duas principais linhagens de dicinodontes são os Emydopoidea e os bidentálios (Bidentalia). 

“Em 2016, e até pouco antes do nosso estudo, as análises filogenéticas sugeriam que o Rastodon era um bidentálio, um dos mais antigos do grupo”, conta Silva. “A maioria dos bidentálios do Permiano, contudo, eram encontrados na África do Sul. Assim, o Rastodon era considerado uma evidência de que esse grupo havia surgido lá”. 

No entanto, alguns estudos vinham contestando essa versão. “Uma análise mais detalhada do crânio sugere fortemente que o Rastodon não é um bidentálio, mas um membro dos Emydopoidea. Ou seja, está em outro ramo da árvore dos dicinodontes”. A nova classificação faz dele o primeiro e único do grupo da América do Sul.

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O fóssil sugere que a origem do grupo Emydopoidea como um todo pode ter ocorrido no sul do Brasil. 

Próximos passos

Para Voltaire Paes Neto, as novas imagens em 3D podem ser utilizadas em pesquisas futuras sobre a musculatura do Rastodon e força de sua mordida, por exemplo.

“As técnicas digitais também são uma forma de resguardar as informações e o patrimônio do país. E elas podem ser empregadas em fósseis que ainda não foram estudados ou para responder perguntas sobre aqueles que já conhecemos”, disse o autor. 

João Lucas da Silva também espera que estudos como este façam com que mais pessoas se interessem por formas de vida pré-históricas para além dos gigantes famosos. “Os dinossauros, embora fantásticos, são apenas um ramo da árvore da vida. Antes, durante e depois do reinado deles, viveram muitas formas e linhagens.” 

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