Namorados: Revista em casa a partir de 9,90

Cientistas sugerem usar poeira lunar para combater o aquecimento global

Uma grande nuvem do material poderia bloquear até 2% da luz solar que alcança a Terra. Mas seria algo bem difícil de se colocar em prática. Veja por quê.

Por Luisa Costa
15 fev 2023, 16h46

A nossa atmosfera funciona como um cobertor. A luz do Sol esquenta a superfície da Terra, que passa a emitir radiação infravermelha (que nós sentimos na forma de calor). Parte dessa radiação escapa para o espaço e parte se mantém aqui, presa debaixo do cobertor formado por gases como dióxido de carbono (o famoso CO2) e vapor d’água.

A este fenômeno natural damos o nome de efeito estufa. E é ótimo que ele exista. Caso contrário, a Terra teria temperatura média abaixo de zero, e a vida como conhecemos não existiria.

O problema é quando o cobertor fica grosso demais, e o calor se acumula em excesso por aqui. Isso se dá, por exemplo, a partir da queima de combustíveis fósseis – prática que apareceu no século 18 e vem se intensificando desde então, aumentando a quantidade de CO2 na atmosfera. Assim, a retenção natural e inofensiva de calor dá lugar ao aquecimento global. (Entenda mais sobre ele nesta matéria da Super.)

A solução mais óbvia é frear (ou zerar, na melhor das hipóteses) as emissões de carbono, investir em fontes de energia renováveis (como solar e eólica) e resolver o problema do desmatamento – visto que as árvores absorvem doses cavalares de CO2 por meio da fotossíntese. Mas, volta e meia, alguns cientistas propõem medidas diferentonas para resfriar a Terra, que reduzam, por exemplo, a quantidade de luz solar que alcança nossa superfície. É uma tentativa de resolver o mal pela raiz. Essas soluções são frequentemente chamadas de “geoengenharia solar” ou “gerenciamento da radiação solar”.

Faz parte dessa seara o novo trabalho de cientistas da Universidade de Utah e do Observatório Astrofísico Smithsonian (EUA). Recentemente, eles publicaram, na revista científica PLOS Climate, uma proposta ambiciosa para combater o aquecimento global: criar uma nuvem de poeira lunar no espaço que serviria como um guarda-sol gigante para o planeta Terra.

Continua após a publicidade

A equipe usou simulações de computador para testar cenários variados em que grandes quantidades de poeira poderiam reduzir, de 1% a 2%, a quantidade de luz solar que chega por essas bandas. A redução maior envolve o lançamento de 10 milhões de toneladas de poeira lunar no espaço a cada ano – uma quantidade de material lançada gradualmente, que não seria vista nem sentida pelas pessoas na superfície do planeta.

Cada rodada de poeira ficaria entre o Sol e a Terra por aproximadamente uma semana, e suas partículas teriam, em média, 0,2 micrômetros de comprimento – um tamanho ideal para alcançar um bom equilíbrio entre o sombreamento e a estabilidade do material no espaço. O guarda-sol de poeira ficaria, inclusive, no primeiro ponto de Lagrange (ou L1). Esse é um dos cinco pontos no espaço descobertos pelo astrônomo italiano Joseph Louis Lagrange (1736-1813) em que as forças gravitacionais do Sol, da Terra e da Lua se equilibram.

Por que isso importa? O equilíbrio permite que objetos permaneçam estáveis, acompanhando a Terra. É justamente no L1 que satélites como o Solar & Heliospheric Observatory e o Deep Space Climate Observatory estão localizados.

Continua após a publicidade

Isso nos leva ao primeiro problema do plano da poeira lunar: para funcionar, seria necessário mover ou desativar tais satélites.

Não só. Para fazer um guarda-sol de poeira lunar, precisaríamos de bases lunares, uma infraestrutura de mineração do satélite, uma maneira de armazenar o material em larga escala e, claro, um jeito de lançar a poeira no espaço. Tudo isso custaria super caro e seria certamente acompanhado por problemas legais e diplomáticos.

Por isso, os próprios cientistas reconhecem que sua proposta tem limitações. “Não somos especialistas em mudanças climáticas ou na ciência de foguetes necessária para mover a massa [necessária] de um lugar para outro”, eles afirmam em comunicado. “Estamos apenas explorando diferentes tipos de poeira em várias órbitas para ver o quão eficaz essa abordagem pode ser.”

Continua após a publicidade

As novas ideias, afirmam outros pesquisadores, servem mais para provocar o público e a comunidade científica. Mas a geoengenharia solar não está totalmente fora de cogitação: estas são abordagens alternativas para mitigar o problema do aquecimento global, que tem um custo-benefício diferente. Por enquanto, o plano é se ater às soluções mais óbvias.

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.