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Como a vida de Leonardo da Vinci pode inspirar a sua

"É algo que desde então veio à minha atenção, que pessoas realizadas raramente deixaram as coisas acontecerem a elas. Elas saíram e aconteceram às coisas"

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 15 abr 2021, 13h57 - Publicado em 7 abr 2017, 19h42

Ele foi um dos caras mais geniais que a humanidade já viu – quiçá o mais genial. Sua intuição, combinada à observação obsessiva do mundo ao seu redor, produziu incríveis obras de arte e invenções avançadíssimas, como o paraquedas, o submarino e os primeiros protótipos de máquinas voadoras. Aos homens daquele tempo pareceriam loucuras. Mas Leonardo intuiu o futuro como poucos e, com isso, ajudou a construí-lo. Nós, com o benefício da vida no século 21, sabemos bem disso. Mas a grande lição que ele nos deixa é que até mesmo as pessoas mais brilhantes precisam correr atrás das coisas, se querem deixar sua marca no mundo.

Leonardo demonstrava talento inato para as artes e já tinha um olhar diferenciado para a natureza. Por exemplo: naquela época, em pleno Renascimento, ele defendia o vegetarianismo como uma postura ética diante da crueldade contra os animais, o que mostra uma sensibilidade muito além do seu tempo. (Não acho que o vegetarianismo necessariamente seja uma solução para o dilema do direito dos animais, um assunto que trato em mais detalhes em meu livro Ciência Proibida, mas é inegável que a sensibilidade de Leonardo para o problema envolvido em explorar animais estava deslocada de sua própria época e parece muito mais apropriada hoje, mais de 5 séculos depois.)

Embora tivesse uma mente completamente moderna, Leonardo teve de lutar contra os preconceitos retrógrados de seu tempo. O fato de ser um filho que nasceu fora do casamento, entre um nobre e uma camponesa, foi uma marca que o perseguiu. Primeiro, pela dificuldade de se firmar e ganhar o respeito da aristocracia italiana. Segundo, pelas disputas de herança que a marca de bastardo trouxeram a ele.

Quando foi humilhado e rejeitado pelos Medici, Leonardo poderia ter se resignado. Em vez disso, acreditou plenamente em seu potencial e foi oferecer seus préstimos a Ludovico Sforza, duque de Milão, levando consigo o que hoje basicamente seria visto como um currículo e uma carta de recomendação. E lá ele teve seu valor reconhecido, tornando-se um dos grandes mestres e sábios de seu tempo, cujos trabalhos eram disputados por apreciadores das artes e das ciências e invejados por seus rivais.

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Isso não caiu no colo dele; ele teve de correr atrás. É um ótimo exemplo para refutar aquela noção de que, quando topamos com um sujeito extremamente inteligente e bem-sucedido, tendemos a pensar naquela linha meio tacanha, dizendo “tudo é fácil para ele”. Não, dificilmente os gênios se projetam com facilidade. Muito pelo contrário, uma das marcas de vida da inteligência superior, a tomar pela maioria dos exemplos históricos, é o esforço e o duelo constantes contra forças contrárias que querem manter o gênio no anonimato, longe das páginas da história. (Pode reparar: se o sujeito subiu muito fácil na vida, a chance é muito maior de que ele seja, na verdade, medíocre, alavancado por elementos alheios a ele mesmo, do que de fato uma pessoa brilhante.)

A paixão de Leonardo pelo novo sem dúvida o ajudou nisso. Ele viajou a Itália inteira, serviu a muitos patronos e dava igual e singular atenção a tudo que via. Seus cadernos de notas incluem desde coisas triviais como listas de mercado e anotações de compromissos até desenhos sofisticados de observações da natureza e reflexões filosóficas complexas. Leonardo era o consumado homem da Renascença, aquela figura que parecia saber tudo. Mas ninguém nasce sabendo tudo; seu grande mérito foi abrir os olhos para o mundo lá fora e absorvê-lo como poucos. É uma dica que vale para nós também: nunca presumir que já sabemos tudo de que precisamos. Temos de sempre estar prontos para aprender mais, para conhecer algo novo.

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