Como pode uma pessoa se atirar de um prédio para a morte certa?
Elas têm o impulso de tomar uma atitude para acabar com seu estado de angústia, mas as opções são mínimas.
Essa cena dramática é comum em grandes incêndios – como o provocado recentemente pelo ataque terrorista ao World Trade Center ou o ocorrido no Edifício Joelma, em São Paulo, em 1974. Acuadas pelo fogo, muitas pessoas se jogam para a morte pulando de vários andares de altura. “Elas têm o impulso de tomar uma atitude para acabar com seu estado de angústia, mas as opções são mínimas. Pressentindo que morrerem queimadas é um sofrimento muito grande, calculam que a melhor saída é se atirar de lá de cima”, afirma a psicóloga Maria Helena Pereira Franco, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Tamanho desespero implica que essas vítimas não estejam mais lúcidas na hora do salto. “Elas provavelmente entram em estado psicótico; isto é: falam, agem e pensam, mas já perderam o contato com a realidade”, diz Thaís Russomano, especialista em medicina aeroespacial da PUC do Rio Grande do Sul.
Durante o trajeto de poucos segundos até o chão, a maioria das pessoas permanecem de olhos abertos, mas estão completamente anestesiadas. Situações de medo extremo fazem o corpo liberar hormônios que inibem a dor, além de acelerar a respiração e os batimentos cardíacos. “Apenas em algumas situações o suicida tem o alívio de não ver o chão se aproximando. Esses casos são raros e acontecem porque a falta de uma perspectiva de ação faz com que o organismo desacelere as funções vitais: o coração passa a bater tão devagar que a pessoa desmaia e morre já inconsciente”, afirma o fisiologista Luiz Eugênio Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). As conseqüências do choque com o solo vão desde a fratura dos ossos até o rompimento dos órgãos internos – de acordo com a posição do corpo, o salto pode ser fatal mesmo de uma altura baixa.
“O recomendável é que as vítimas de um incêndio busquem a escada de emergência o mais rápido possível”, afirma o coronel Orlando de Camargo, do Corpo de Bombeiros de São Paulo. As pessoas devem tentar atingir essa saída mesmo que o fogo já tenha se espalhado pelo andar. A primeira estratégia para chegar até lá é engatinhar – a fumaça, que costuma matar antes do fogo, tende a subir para o teto. Se possível, deve-se fazer uma máscara improvisada com um lenço úmido e respirar pelo nariz. Molhar o corpo todo também ajuda a evitar queimaduras. Se, mesmo assim, for impossível escapar, a medida correta é fechar as portas da sala e esperar auxílio junto a uma janela. As chances de sobrevivência podem ser bem reduzidas, mas só se realizam quando não se perde completamente a esperança.