Flávio Dieguez
Dois equívocos saudaram a finalização do Projeto Genoma, anunciado em fevereiro. O primeiro foi achar que o homem tem menos genes do que deveria diante de sua grande complexidade – nossos 32 000 genes parecem poucos comparados aos 25 000 das plantas ou aos 19 000 dos vermes. Mas não é assim que se avalia complexidade: ela depende, de fato, das combinações que os genes podem realizar entre si. E a quantidade de nossas combinações supera a dos vermes na proporção de 10 elevado a 3 000 (1 seguido de 3 000 zeros). Essa medida é apenas teórica.
É claro que, na prática, o número pode não ser precisamente esse. Mas o cálculo ajuda a ver como é prematuro tirar conclusões sobre o genoma. O segundo engano refere-se ao fato de que os genes constituem apenas 3% do genoma: o resto parece inútil, tanto que está sendo chamado de “lixo genético”. Mas esse material, como sugere um estudo recém-publicado pelos cientistas Carla Goldman e Nestor Oiwa, da Universidade de São Paulo, pode ter a função de organizar os genes e ordenar suas combinações. “O lixo pode ser o próprio responsável pela complexidade do organismo humano”, diz Carla.