Condição neurológica rara faz com que rostos pareçam distorcidos
A prosopometamorfopsia só tem 100 casos conhecidos no mundo. Uma nova pesquisa criou imagens de como um desses pacientes enxerga.
Por um acaso e infelicidade da natureza, algumas pessoas desenvolvem síndromes e condições tão bizarras que são dignas de ficção. Um desses exemplos é a prosopometamorfopsia, ou PMO.
Imagine acordar um dia, olhar para a sua mãe, pai ou colega de quarto e se deparar com uma face assustadora. Cantos da boca e dos olhos puxados para trás, as orelhas pontiagudas e sulcos profundos na testa, compondo um rosto diabólico. Foi o que aconteceu há três anos com Victor Sharrah, um paciente de 59 anos com a condição.
O rosto da pessoa na verdade está normal. O problema está na percepção de quem olha. Conhecida também como “Síndrome da Face Demoníaca”, a doença causa distorções nos rostos observados. A condição é rara: desde de 1904, quando passou a ser registrada, só descobrimos 100 casos em todo o mundo.
Pela primeira vez, um grupo de pesquisadores conseguiu representar através de fotos digitais de como seria o rosto para as pessoas com PMO. Com o relato de Victor Sharrah, os pesquisadores usaram programas de edição para manipular fotos até que elas se assemelhassem à forma como Victor enxerga as pessoas.
E isso só foi possível porque a doença tem um fator ainda mais bizarro: a prosopometamorfopsia só acontece quando a pessoa com a condição vê o rosto da outra pessoalmente. Quando o paciente vê imagens da pessoa através de fotografias ou computador, o rosto aparece de forma normal.
Os pesquisadores colocaram Sharrah em uma mesma sala com outra pessoa, e com uma foto daquela pessoa. Ele, então, descrevia as diferenças entre a imagem e a pessoa, e os pesquisadores editaram a foto até ela ficar da forma como Sharrah estava descrevendo.
É importante ressaltar que a descrição feita por Sharrah é específica dele. Quando se trata da prosopometamorfopsia, os sintomas não são os mesmos entre os pacientes, com cada pessoa enxergando deformações diferentes. Umas podem ver rostos caídos, descoloridos ou até mesmo com outro tipo de textura.
Em entrevista à Science News, Jason Barton, neurologista da Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá que não estava envolvido no estudo, diz que as imagens ajudam as pessoas a pelo menos terem uma noção de como é viver com uma condição dessas. Isso porque a PMO muitas vezes é confundida com outros tipos de condições mentais, como esquizofrenia ou psicose.
“Já ouvimos de várias pessoas com PMO que foram diagnosticadas por psiquiatras como tendo esquizofrenia e colocadas a tomar antipsicóticos, quando sua condição é um problema com o sistema visual”, conta ao EurekAlert! Brad Duchaine, professor de psicologia e ciências do cérebro da Faculdade de Dartmouth e um dos autores do estudo.
“E não é incomum que as pessoas que têm PMO não contem aos outros sobre o seu problema com a percepção facial porque temem que os outros pensem que as distorções são um sinal de um distúrbio psiquiátrico. É um problema que muitas vezes as pessoas não entendem”, completa Duchaine.
Os pesquisadores ainda não sabem ao certo o que causa a PMO, mas acredita-se que ela esteja ligada a partes do cérebro responsáveis pelo processamento de reconhecimento facial. Enquanto alguns desenvolveram a doença depois de algum tipo de trauma na cabeça, outros a apresentaram de forma espontânea, sem nenhum tipo de incidente.
Sharrah, por exemplo, acredita que a condição possa ter surgido depois de um episódio de intoxicação por monóxido de carbono ou após um grave acidente em que ele bateu a cabeça no chão.
Em alguns casos, os sintomas da PMO podem sumir depois de alguns dias ou semanas. Em outros, como no caso de Sharrah, eles podem persistir por um bom tempo.
Para ele, o problema só melhorou após um tratamento. Quando a luz é ajustada para um determinado tom de verde, ele consegue enxergar os rostos como eles são normalmente. Assim, tal como o Ciclope dos X-Men, ele passou a usar um par de óculos com uma tonalidade diferente (no caso dele, verde).