Conheça a máquina que lê pensamentos – e exibe imagens deles
Cientistas conseguiram treinar um sistema que identifica em quem você está pensando e exibe o rosto em um telão (com uma certa margem de erro)
A fórmula científica para ler mentes já foi descoberta: ela mistura ressonâncias magnéticas do cérebro e inteligência artificial. O primeiro sistema capaz de identificar padrões do pensamento e decodificá-los para formar uma imagem em um telão já existe – embora ainda não seja lá muito confiável.
A máquina é uma criação de pesquisadores da Universidade de Oregon. Eles queriam descobrir se era possível extrair informações de uma parte do cérebro responsável pela formação de memórias, chamada giro angular. Eles aproveitaram para testar se o equipamento conseguiria decodificar a atividade do córtex ociptotemporal, que processa aquilo que vemos.
Para isso, eles selecionaram mais de mil fotos, que eram exibidas para os voluntários enquanto passavam por uma ressonância magnética. Aí, entrava a inteligência artificial, que decodificava a atividade cerebral nessas duas áreas do cérebro e tentava reconstruir o rosto que estava sendo visto, exibindo a imagem em um telão. Os resultados foram, francamente, bem esquisitos:
Dá para enxergar semelhanças entre os modelos originais e algumas releituras, mas o sistema ainda fica muito atrás de um retrato falado bem feito. Mesmo assim, o potencial da tecnologia é gigante.
A inteligência artificial foi treinada para olhar para um rosto humano e enxergar alguns traços principais, cada um associado com um número. Depois, analisando diversas ressonâncias, o sistema conseguiu identificar qual o padrão de atividade cerebral que aparece quando vemos cada um desses traços numerados. Na fase do experimento, a máquina já conseguia, só baseada na ressonância, criar um modelo com os atributos físicos que ela identificou no cérebro dos voluntários.
A parte mais interessante – e assustadora – do experimento foi a segunda etapa. Em vez de mostrar uma foto aos voluntários, os cientistas pediram que eles imaginassem uma das fotos do banco de imagens. Assim, a máquina precisava conseguir identificar um rosto só a partir das memórias do participante, sem nenhum estímulo visual. Por análise estatística, os pesquisadores perceberam que o acerto da máquina foi maior do que se ela simplesmente tivesse montado um rosto aleatório – na prática, ela estava, sim, decodificando setores da memória.
Fechando o estudo, os pesquisadores mostraram só os rostos reconstruídos pelo sistema para um novo grupo de voluntários. Eles precisavam responder perguntas simples sobre a pessoa mostrada na imagem: gênero, etnia e se ela estava feliz ou triste no momento da foto. E foi um sucesso: sem nunca ver a foto original nem falar com o observador, desconhecidos conseguiam acertar o estado de espírito e a cor de pele de uma pessoa baseado apenas nas informações que um computador puxou, direto na memória dela.
Os pesquisadores confirmam que estamos assistindo um tema de ficção científica se tornar realidade: o princípio da leitura da mente está ali, o que falta para o argoritmo são muitas horas de treino. Uma precisão maior exige que o cérebro de uma pessoa “ensine” o sistema como ele processa até 20 mil rostos – difícil é encontrar quem esteja disposto a passar tanto tempo seguido dentro de uma máquina de ressonância.
Felizmente, mesmo que a máquina seja capaz de transmitir pensamentos com perfeição, é difícil que ela leia mentes contra a vontade da vítima. “Não dá para extrair uma memória a menos que a pessoa esteja lembrando dela. Na maior parte do tempo, as pessoas têm isso sob controle”, contou Brice Kuhl, um dos autores. Kylo Ren vai ter que continuar usando a Força nos seus interrogatórios.