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Conheça cinco mulheres que estão transformando o mundo

Cientistas eleitas pelo prêmio Para Mulheres na Ciência, da Unesco e da Fundação L'Oréal, querem trazer mais referências femininas às "ciências duras"

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 mar 2017, 11h46 - Publicado em 27 mar 2017, 20h09

Pense em uma pessoa debruçada sobre um microscópio: que gênero ela tem, na sua imaginação? Um experimento criado nos anos 60, chamado Desenhe um Cientista, mostra que crianças a partir da segunda série já tem um estereótipo mental de que o “cientista-padrão” é um homem de cabelos brancos. Mas já tem muita gente tentando mostrar que mente científicas vêm em outros formatos.

Vindas de diferentes partes do mundo, essas cinco mulheres vão transformar o celular que você carrega no bolso, suas visitas ao médico, o seu conceito de vida fora da Terra e, de quebra, chegar perto de trazer para a realidade as mãos biônicas de Anakin e Luke Skywalker.

Elas são as escolhidas neste ano para o Prêmio Para Mulheres na Ciência, que há 19 anos apoia as mulheres que estão na vanguarda da pesquisa em ciências materias e da natureza – aquelas cujos temas de pesquisa são difíceis de explicar, mas que vão ter um impacto gigantesco no futuro.

Celulares flexíveis e Luke Skywalker

Nascida na China, a cientista Zhenan Bao se mudou para os Estados Unidos com os pais e foi parar nos laboratórios da Universidade Stanford, na Califórnia. Há um década ela trabalha em criar materiais híbridos (orgânico-inorgânicos) voltados para a criação de eletrônicos flexíveis.

Mas se tudo o que você quer é um celular que se dobre, Bao já passou dessa fase: ela quer criar um material que seja flexível, esticável, sensível, condutor de sinais elétricos e regenerativo. Parece impossível? Você tem todas essas coisas na palma da mão – literalmente.

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(L'Oréal-UNESCO/Flickr)
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A pesquisadora está criando circuitos e materiais com as mesmas propriedades que a sua própria pele. Até agora, já conseguiu atingir a flexibilidade, a esticabilidade e uma sensibilidade tão precisa que é capaz de reconhecer o peso de uma borboleta. E tudo isso não vai servir apenas para criar uma tela que se regenera depois de cair e pode ser esticada para se adaptar à sua própria pele. Ela quer criar de exames médicos contínuos – um acompanhamento 24 horas de pressão arterial, por exemplo – até baterias superseguras, sensíveis ao calor, que impediriam explosões como a do Galaxy Note 7.

Mas uma das possibilidade mais interessante é a de usar inspiração na pele humana para criar a própria pele humana: uma nova geração de próteses sensíveis e capazes de transmitir sinais elétricos para o cérebro, tal qual as (diversas) mãos artificiais que aparecem nos filmes de Star Wars.

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(L'Oréal-UNESCO/Flickr)

Querida, encolhi o computador

Outras três cientistas a participarem do prêmio, as inglesas Nicola Spaldin e Michelle Simmons e a libanesa Niveen Khashab, tem como especialidade o Encolhimento.

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A primeira cria multiferroicos – materiais que tem, ao mesmo tempo, propriedades magnéticas e elétricas. O problema é que átomos possuem propriedades elétricas não gostam muito de magnetismo e vice e versa. Quando você força eles a se tornarem magnéticos, você atrapalha a parte elétrica e vice e versa.

Na vida real, isso torna seu computador maior. Seu laptop precisa de materiais magnéticos para armazenar informação e outros elétricos para processar a informação. Um componente capaz de fazer os dois trabalhos ao mesmo tempo economizaria em energia e tamanho. Spaldin foi a primeira a provar que esse tipo de material era possível – e agora produz, pouco a pouco, esses materiais no seu laboratório na Suíça.

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(L'Oréal-UNESCO/Flickr)

Numa escala ainda menor, Niveen Khashab estuda, no Oriente Médio, nanomáquinas capazes de atuar dentro do corpo, entrando e saindo das suas células, controladas por luz e calor, liberando drogas e proteínas só quando necessário. Minúsculos robôs engolíveis que fazem até exames de biópsia bem menos invasivos que os de hoje.

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Mas tudo isso é ainda muito grande perto do trabalho de Michelle Simmons. Essa pesquisadora trabalha, na Austrália, só com em escala quântica. Ela se dedica a aprimorar os computadores quânticos, aqueles com um poder de processamento de dados exponencialmente maior do que o do eletrônico clássico que você tem nas mãos agora.

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(L'Oréal-UNESCO/Flickr)

Vida extraterrestre

A quinta pesquisadora a receber o prêmio, criado em parceria entre a UNESCO e a Fundação L’Oréal, foi a chilena Maria Teresa Ruiz. Além de ter sido a primeira mulher a se formar em Astronomia na Universidade do Chile e a primeira doutora em astrofísica da Universidade de Princeton, ela também descobriu anãs marrons. Com características mistas de planetas e estrelas, Ruiz observou esses objetos em 1997 – desde então, eles se tornaram “laboratórios” para entender exoplanetas.

Como eles estão distantes e muito próximos do Sol, é difícil compreender muito sobre esses planetas vizinhos olhando para eles próprios. Para isso, muitas aproximações são retiradas do que aprendemos com os modelos das anãs marrons – que Ruiz estuda em detalhes até hoje, 20 anos depois. E, por enquanto, as maiores chances que temos de encontrar vida fora da Terra é exatamente nos exoplanetas, como os de Trappist-1, maior descoberta recente da Nasa. Quanto mais soubermos sobre eles, melhor podemos compreender a possibilidade de encontrarmos “vizinhos” fora do sistema solar.

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(L'Oréal-UNESCO/Flickr)

Mas porque um prêmio só para mulheres?

Todo ano, o Para Mulheres na Ciência escolhe, com um júri internacional, as cientistas mais proeminentes de 5 regiões do planeta. Mais recentemente, eles escolhem 15 Rising Talents, pesquisadoras mais jovens, com pesquisas com potencial enorme. Neste ano, uma das escolhidas foi Fernanda Werneck, bióloga brasileira que investiga a adaptação de espécies brasileiras no Cerrado e na Amazônia – e quer descobrir se há, nos genes dos animais melhor adaptados a temperaturas mais altas, segredos de como protegermos a biodiversidade nacional dos males do aquecimento global. Em 2016, Werneck venceu a edição nacional do Prêmio (que está, inclusive, com inscrições abertas).

O objetivo, é claro, é impulsionar a ciência – mas, especialmente, criar exemplos femininos nas ciências “duras”. Desde que o prêmio Nobel foi criado, ele foi entregue a 579 vezes. Só 49 delas as premiadas foram mulheres – cerca de 8,46% dos casos. Se tirarmos Literatura (14 vezes) e Paz (16 vezes), os prêmios mais entregues a elas, a taxa cai para 5,1% de laureadas. Se tirarmos economia (1 vez) e medicina (12 vezes) e deixarmos apenas as ciências “duras”, aí nem precisa de porcentagem: sobram só 6 prêmios – que foram para 5 mulheres, já que Marie Curie levou dois.

A esperança é que dar mais visibilidade para mulheres crie um ciclo virtuoso: mais referências femininas leve a mais caminhos abertos para mulheres na ciência. E só assim, em alguns anos, vai dar para diversificar um pouco os resultados do experimento Desenhe um Cientista – e quebrar a ideia do Cientista Maluco de Cabelos Brancos gritando Eureka.

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