Conheça o tarado sexo submarino
Os animais marinhos têm vidas sexuais muito mais emocionantes do que as nossas. Leia aqui, nesta entrevista com a bióloga Marah Hardt.
A bióloga Marah Hardt estuda os hábitos reprodutores dos animais marinhos e já presenciou cenas muito picantes debaixo do mar, como o molusco que atira seu pênis na fêmea. As histórias estão no livro Sex in the Sea, sem edição em português. Aqui, a SUPER conversou com ela.
Como você consegue flagrar o sexo entre esses animais?
Não é fácil registrar um casal (ou grupo) durante o ato. Algumas espécies são muito mais “flagráveis” do que outras pela maneira ou o local que praticam sexo. Alguns cientistas usam desde observação submersa (tem quem mergulhe no meio de milhares de garoupas copulantes durante seu encontro anual) até testes genéticos, que revelam coisas como a paternidade em tubarões. Quem estuda as baleias, por exemplo, raramente consegue enxergar os animais – assim, o sexo entre baleias-azuis é analisado por meio do som e de microfones aquáticos.
Para ver a reprodução de corais, mergulhei no mar, à noite, logo após o pôr do sol, em recifes perto da costa. Deu para ficar duas horas submersa, graças ao mar calmo e raso. E, como corais não se movem e costumam lançar seus ovos sempre nas mesmas condições todos os anos, consegui encontrar as mesmas colônias que eu já havia analisado e testemunhar suas orgias anuais. É o meu método favorito, observar e gravar as cenas enquanto a natureza se desdobra diante de você.
Mas, para mim, o mais inspirador de estudar o sexo no fundo do mar, é observar a maneira criativa como os pesquisadores conduzem seu trabalho. É um campo de estudo que se utiliza de todos os métodos possíveis: do trabalho no laboratório ao trabalho de campo; de mergulhos submarinos hipertecnológicos a simples observações; de análise de espécies mortas em museus à análise dos animais vivos; do microscópico ao macroscópico.
Os animais marinhos se intimidam com a sua presença?
Depende da espécie. Quando observei lulas gigantes, por exemplo, as luzes brilhantes da câmera e o zunido do equipamento não perturbaram o casal. Eles continuaram lá por vários minutos. Mas outras vezes a presença de um pesquisador pode atrapalhar. O desafio é ser o mais invisível possível. Esse, aliás, é um dos grandes problemas da pesca. O som dos barcos ou a presença de motores pode interromper a corte dos animais, disfarçar seus métodos de atração ou simplesmente eliminar indivíduos importantes (muitas vezes, o macho mais forte e agressivo – e o melhor reprodutor – vai ser também o primeiro a morder a isca).
Qual o animal mais pervertido e a transa mais estranha que você viu?
A golden shower das lagostas é bem ousada. A fêmea encanta o macho mais agressivo e urina nele para amansá-lo. Os esguichos ficam debaixo dos olhos. Depois desse feitiço, ela volta para a toca, onde os dois vivem juntos por uma semana antes de realmente transarem. Durante esse tempo, eles se tocam com as antenas e perninhas. As pernas deles são cobertas por células receptoras parecidas com as nossas papilas gustativas. Ou seja, eles se lambem com os pés. Sexo com parentes, com animais muito jovens, ou orgias podem surpreender as pessoas, mas são estratégias de reprodução no mar.
Mas acho que não exista nada pervertido no oceano, porque esse termo traz um julgamento moral, como se houvesse algo antinatural acontecendo – e tudo é natural no fundo do mar!
Quais animais se masturbam e quais têm mais orgasmos?
Golfinhos em cativeiro já foram vistos esfregando seus órgãos genitais em superfícies, por puro prazer. Mas não conheço muitos outros casos. Meu chute é que produzir óvulos e espermatozoides é um trabalho muito custoso e as espécies não vão querer desperdiçar esse material. Se considerarmos o orgasmo como o clímax, a ejaculação, peixes como o gudião azul podem ejacular mais de cem vezes ao dia. Aí fica a seu critério decidir se isso conta como orgasmo ou não.
Quais são as zonas erógenas mais comuns do fundo do mar?
Não tem muito como generalizar, já que estamos falando de crustáceos minúsculos e de baleias enormes, com anatomias completamente diferentes. Algumas espécies, como os cavalos marinhos, parecem se tocar e esfregar antes do ato. Outras são adeptas das rapidinhas. Mas é difícil diferenciar quais ações estimulam o “desejo” sexual. Por exemplo, em algumas espécies de peixes que moram no chão do oceano, o macho se aproxima da fêmea de ponta-cabeça para que eles esfreguem as barrigas. À medida que se aproximam, ele começa a fazer um barulho parecido com batidas de tambor que vão se tornando cada vez mais rápidos. Alguns pesquisadores acreditam que isso faz com que a fêmea sincronize a liberação de seus óvulos com o esperma do macho. Mas não temos como ter certeza. Será que a barriga da fêmea é uma zona erógena? Ou essa posição apenas aproxima seus genitais para que a fertilização tenha mais chance de acontecer?
Dá para dizer quais animais sentem mais prazer?
Prazer é outro termo difícil – não conseguimos falar com esses animais, então não tem como saber o que estão sentindo. Muitos deles, sequer têm rostos para que leiamos suas expressões! Os golfinhos são uma espécie que praticam sexo homossexual e sexo com indivíduos que não podem se reproduzir – o que indica que eles estão fazendo sexo sem ser para se multiplicar. Mas como saber se isso é um ato de prazer, de poder ou de curiosidade? Não temos como saber.
Qual a importância desses estudos?
Sexo é o coração da sustentabilidade. Essa é a mensagem do livro. Sem sexo de qualidade, perderemos a diversidade e a abundância que nos sustentam de inúmeras formas – para 2 bilhões de pessoas, peixe é a proteína principal de suas alimentações. Eu teria algumas dicas para quem quiser apoiar o sexo no fundo do mar. 1) Coma peixes que façam muito sexo e que se reproduzem em grande número: anchovas, sardinhas, cavalinha, por exemplo. 2) Conheça seu peixe: informe-se sobre como uma determinada espécie é pescada. Isso obriga os produtores a se legalizarem e não pescarem fora de época ou em locais que ameacem a fauna. 3) Diminua o consumo de combustível fóssil: o aquecimento global aquece os mares também e muda a química da água. Isso atrapalha a reprodução, a comunicação e o habitat das espécies.