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Das viagens à Lua, nasce o mundo moderno

Como as missões empreendidas pela Nasa ajudaram a catapultar o desenvolvimento da informática e de centenas de outras tecnologias.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 8 ago 2019, 16h14 - Publicado em 22 jul 2019, 17h28

Apesar de seu custo elevadíssimo ( o equivalente a US$ 112 bilhões em 11 anos), o programa Apollo trouxe benefícios palpáveis para a economia americana e, em última análise, ajudou a parir o mundo digital ultraconectado em que vivemos hoje.

Para começar, há os efeitos difusos, difíceis de quantificar, mas que certamente tiveram um papel. Um bocado de gente que era criança e adolescente na década de 1960 cresceu vendo as fantásticas realizações do programa espacial e se motivou a perseguir uma carreira em ciência, tecnologia, engenharia ou matemática, o quarteto de disciplinas essenciais reunidas hoje na sigla inglesa STEM. É a tal “geração Apollo”. “Houve um aumento dramático no número de estudantes cidadãos americanos que buscaram graduação avançada em disciplinas STEM”, diz Eligar Sadeh, da empresa de consultoria Astroconsulting.

Um efeito muito mais claro diz respeito ao desenvolvimento da computação. Qualquer voo espacial exige cálculos feitos em tempo real, com rápido processamento e a máxima miniaturização possível. Estamos falando de uma época em que computadores ocupavam salas inteiras. Mas, durante o programa Apollo, a Nasa precisou fazer os computadores caberem dentro do relativamente modesto módulo lunar, para colher e processar dados em tempo real de modo a permitir a alunissagem.

A iniciativa deu um impulso enorme no processo de miniaturização dos circuitos integrados – até então uma novidade com pouca demanda de mercado –, e esse processo culminou com o celular que está neste momento no seu bolso. Na época, o módulo lunar tinha de trabalhar com um computador cuja memória de trabalho (RAM) tinha apenas 64 kbytes, o equivalente a uma única foto em baixa resolução. Mas é assim que as coisas começam.

A Nasa se tornou uma grande consumidora da nascente indústria eletrônica e, ao lado do desenvolvimento militar de mísseis balísticos, ajudou a derrubar o preço dos circuitos integrados para que eles encontrassem seu caminho na economia de mercado. Há estimativas de que, já em 1963, o programa Apollo estava sozinho consumindo 60% de toda a produção americana de circuitos integrados. E nesse caso específico a aplicação nas viagens lunares era muito mais exigente que a dos mísseis, porque era necessário garantir confiabilidade num ambiente mais extremo, o espaço. Tudo isso ajudou a parir o mundo moderno.

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Simulação do cockpit do módulo lunar da Apollo 11 durante o pouso na Lua. (Divulgação/NASA)

Teria acontecido sem o programa Apollo? Provavelmente sim. Mas demoraria mais.

E não custa também a gente lembrar o fato de que, quando você tenta superar um desafio tão absurdamente difícil e cheio de nuances quanto levar seres humanos à Lua e trazê-los de volta à Terra, seus programas de pesquisa e desenvolvimento produzirão tantas inovações que é inevitável que, cedo ou tarde, elas se tornem produtos usados aqui mesmo, no nosso cotidiano, para melhorar a nossa vida.

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A Nasa mantém uma base de dados com todas as invenções que se tornaram produtos derivados (costuma-se usar o termo “spin-offs”) de seus programas espaciais. Só ligados ao programa Apollo, são mais de 1.800 produtos até hoje. Quer uma listinha?

Sistemas de resfriamento de trajes desenvolvidos para as caminhadas lunares hoje são usados por pilotos, técnicos de reatores nucleares, funcionários de estaleiros e pessoas com esclerose múltipla; máquinas de diálise se beneficiam de um processo químico desenvolvido pela Nasa para filtrar resíduos tóxicos que as torna mais econômicas; equipamentos para manter os astronautas em forma com exercícios anaeróbicos estão em academias; sistemas de filtragem de água das naves foram parar em filtros domésticos; comida desidratada e congelada hoje existe nas prateleiras dos supermercados; tecidos resistentes ao fogo usados hoje pelos bombeiros nasceram das chamas da Apollo 1; tintas usadas em automóveis; lubrificantes para tubulações; materiais de isolamento térmico criados para espaçonaves agora revestem casas, e por aí vai… uma lista de 1.800 produtos não vai caber aqui, mas dá uma ideia de como o programa lunar serviu como um imenso catalisador para a criatividade humana. E os benefícios estão ao seu redor, sem que você se dê conta de onde eles vieram.

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