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Descoberto exoplaneta que absorve 97% da luz que incide sobre ele

O astro fica tão pertinho do seu Sol que um ano, por lá, dura menos de dois dias. Mesmo assim, ele é capaz de engolir boa parte da radiação que o alcança

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
24 abr 2018, 15h07

Astrônomos da Universidade Keele, no Reino Unido, descobriram um exoplaneta (isto é, um planeta de fora do Sistema Solar) parecido com Júpiter que absorve algo entre 95% e 97% da luz que incide sobre ele. Em outras palavras, o astro é mais escuro que carvão – e está no páreo para ser declarado o planeta mais dark já encontrado no céu.

WASP-104b, como foi batizado, é considerado um “Júpiter quente”: um tipo de gigante gasoso cuja órbita fica muito, muito próxima da estrela que o hospeda. Uma comparação vem bem a calhar para dar essa explicação. Mercúrio (que, só para lembrar, é muito menor que Júpiter), fica a apenas 57,9 milhões de quilômetros do Sol. Para os padrões cósmicos, isso é tão perto que a temperatura na superfície do planeta, durante o dia, alcança 427° C – e um ano, por lá, dura meros 88 dias.

Mesmo assim, ele fica a uma distância segura de sua estrela se comparado a WASP-104b. Ao que tudo indica, um ano dura aproximadamente 42 horas por lá. Sim, menos de dois dias. O gigante gasoso fica 13 vezes mais perto de sua estrela do que Mercúrio fica do Sol, a apenas 4,3 milhões de quilômetros. E o pior de tudo: assim como ocorre com a Lua em relação à Terra, o planeta tem um lado claro, que está sempre virado para a estrela, e um lado escuro, em que sempre é noite.

Agora você deve estar se perguntando: como é que pode um planeta que está tão perto de sua estrela não refletir luz quase nenhuma? Bem, acontece que a quantidade de luz que é refletida por um planeta não tem nada a ver com a quantidade de luz que o atinge. Há algumas superfícies que são notavelmente boas em refletir luz, como nuvens ou gelo. Mas o lado dia de WASP-104b é tão quente que impede a formação de qualquer um dos dois, e o lado frio, onde elas poderiam em tese existir, não recebe luz nenhuma.

Uma coisa que a atmosfera nebulosa e densa de WASP-104 provavelmente tem para dar e vender é sódio e potássio em sua forma pura – e os dois metais alcalinos são ótimos em capturar luz no espectro visível. Isso é mais regra do que exceção: todos os planetas grandes e gasosos que ficam perto demais de suas estrelas têm uma certa tendência emo, e absorvem pelo menos uns 40% da luz que incide sobre eles. Só calhou do recém-descoberto ser um recordista.

É bom lembrar que o fato de que o novo exoplaneta estar no top ten de escuridão do cosmos não quer dizer que ele é mais difícil de encontrar que outros exoplanetas, mais reflexivos. Da distância a que ele está de nós – 464 anos-luz na direção da constelação de Leão –, seria impossível observar diretamente qualquer planeta que seja, grande ou pequeno, brilhante ou opaco.

Esses astros são identificados de formas indiretas: uma é a sombra que eles fazem quando passam na frente de suas estrelas, outra é a sua influência gravitacional sobre a trajetória delas (de maneira exagerada, o fenômeno que você vê no GIF abaixo, em que os dois corpos orbitam um centro de massa comum). Nenhum dos métodos depende da luz refletida pelo planeta. É claro que observações indiretas tornam a tarefa de determinar as características do astro muito mais difícil. Mas elas são suficientes para cravar: temos um fã de heavy metal na área.

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