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Diabos-da-tasmânia correm menos risco de extinção, diz estudo

A espécie possui apenas 15 mil indivíduos e sofre com um tipo de câncer contagioso – mas análises mostram que a transmissão está caindo.

Por Maria Clara Rossini
15 dez 2020, 18h11

Um tipo de câncer facial foi responsável por dizimar 80% da população de diabos-da-tasmânia nas últimas décadas. A doença é transmitida entre os animais por meio da mordida, e até pouco tempo crescia em taxa exponencial. Com uma população reduzida a 15 mil indivíduos, muitos cientistas acreditavam que a espécie estava há um passo da extinção. Mas um novo estudo sugere que a transmissão vem diminuindo – e quem pode estar perto da extinção é o câncer, e não a espécie.

Cânceres transmissíveis são raros em mamíferos. Os cientistas só começaram a detectar um aumento de tumores na população de diabos-da-tasmânia em 1996. Esses animais mordem uns aos outros durante as brigas por fêmeas, o que levou ao rápido crescimento da transmissão. Com a morte de dezenas de milhares de animais, foi necessária a criação de programas de acasalamento em cativeiro para preservar a espécie. 

No pico da epidemia, no início dos anos 2000, cada diabo-da-tasmânia transmitia o tumor para, em média, outros 3,5 indivíduos. Para se ter uma ideia, a taxa de transmissão do novo coronavírus é 2 – o que já foi suficiente para causar uma pandemia. Como a espécie marsupial só existe na Tasmânia (um estado da Austrália), a doença ganhou rapidamente entre a população.

O novo estudo utiliza análise genômica para mostrar que a taxa de transmissão caiu para menos de 1. Ou seja, alguns animais passam o câncer para apenas um indivíduo, enquanto outros não passam para nenhum. Dessa forma, a doença tende a se extinguir.

Para avaliar a taxa de transmissão, os pesquisadores fizeram o sequenciamento do genoma dos animais – ou seja, colocaram todas as letras (A, G, T e C) do DNA deles em ordem. Mais especificamente, utiliza-se o DNA das células da face, que é onde ocorre o câncer. O tumor é um “erro” na sequência das letras de algumas células. Elas se reproduzem e passam as mutações para outras, espalhando o tumor e causando a doença.

Quando um indivíduo infecta outro, esse tumor tende a sofrer mutações. Quanto maior a transmissão, mais frequentes são as mutações. Dessa forma, os pesquisadores avaliaram as mutações em 28 genes das células da face de vários animais para estimar a taxa de transmissão.

A diminuição na transmissão pode ser explicada pela menor densidade populacional dos animais e pela mudança de comportamento. Um outro estudo avaliou o comportamento de 22 diabos por seis meses com coleiras que mostram quando um indivíduo entra em contato com o outro. Os cientistas observaram que, quando o animal se infectava, ele passa a evitar o contato com outros à medida em que fica mais doente.

A notícia é boa para os animais, mas os autores relatam que ainda é necessário cautela, e que os esforços para a preservação da espécie devem ser mantidos. Um segundo tipo de câncer facial nos animais foi descoberto em 2014. Não dá para abaixar a guarda, mas a redução na transmissão pode significar um desvio do caminho rumo à extinção.

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