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DNA “engavetado” pode resolver mais de 1.200 casos de estupro nos EUA

Material genético que estava parado nas delegacias desde 1993 ajudou pesquisadores a traçar perfil de estupradores em série e dos criminosos de um ataque só.

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 20 set 2016, 20h30

Quase 5 mil exames de abuso sexual estavam parados no estado americano de Ohio até o ano passado. Eram investigações de estupro que foram esfriando, até congelarem totalmente, de 1993 até 2010. A lei estadual mudou em 2011, e todos os “kits de estupro” não processados tiveram que ser examinados – de uma vez.

Foi aí que a justiça fez uma parceria com a ciência: uma força-tarefa de pesquisadores começou a testar o material genético engavetado em velocidade total. O resultado foram 526 pessoas indiciadas, 211 condenados e a estimativa de que 1.290 casos sejam resolvidos só com base nas evidências de DNA encontradas pela iniciativa.

Mais do que resolver casos, porém, os cientistas estão tendo acesso (possivelmente pela primeira vez em uma escala tão grande) a uma fonte enorme de dados sobre o estupro, o que pode mudar definitivamente a forma como entendemos – e combatemos – esse crime.

[Alerta: o conteúdo abaixo pode ser sensível para algumas pessoas.]

Os estudos apontaram diferenças importantes entre os dois grandes perfis de estupradores. Cerca de metade deles (49%, no estudo) pode ser classificado como “abusador de uma vez só”. Mas a maioria (51%) é reincidente, ou o estuprador em série. E os dois grupos agem de formas marcadamente diferentes.

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Nos crimes em série, o sequestro das vítimas é mais comum, assim como as ameaças com armas. Mas os criminosos “de uma vez só” tendem a ser diretamente mais agressivos, com socos, tapas e uso da força física para segurar a vítima.

Em grande parte dos crimes “únicos”, a motivação vinha de um ataque em grupo – o criminoso se sente encorajado a fazer com os amigos o que não volta a fazer sozinho. Já os criminosos em série tinham uma tendência maior a atacar desconhecidos.

Os abusadores em série também tendem a ser muito específicos com o local do crime – 58% deles cometem todos os seus crimes em um único tipo de lugar – e  geralmente atacam as vítimas ao ar livre ou em carros. Já o outro grupo tende a cometer o crime na própria casa ou na casa da vítima.

Os antecedentes desses dois tipos de criminosos também variavam. 74% dos criminosos em série já tinham sido presos pelo menos uma vez antes do abuso sexual – algumas vezes, seu histórico policial começou anos antes do ataque. 95% deles voltou a ser preso depois. Entre os abusadores de um só crime, 51% deles cometeu infrações antes e 76% foi preso depois.

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Cada um desses detalhes pode ter uma grande importância na investigação de casos de violência sexual, especialmente para traçar o perfil do criminoso.

Mais do que isso, os dados revelam a importância de impedir que exames de estupro sejam abandonados e acumulados nas delegacias. Se a maioria dos abusadores pode voltar a cometer um crime no futuro, identificá-lo o mais cedo possível é a forma mais direta de prevenir outros estupros.

O motivo para essas análises não serem feitas todas as vezes é econômico – elas são caras, custam U$ 950 por exame nos Estados Unidos. A análise desses 5 mil kits só foi possível porque o governo se comprometeu a pagar por cada um. Mas a conclusão da força-tarefa é que todo esse custo ainda é uma economia.

Um estupro não só machuca física e emocionalmente a vítima – mas gera custa financeiros, que vem da perda de produtividade, qualidade de vida e despesas médicas. A ideia deles, portanto, é que se o apelo à proteção das vítimas não alcança a empatia de todo mundo, talvez a economia faça o papel de convencimento: só a iniciativa de Ohio pode levar a uma economia de U$ 48,2 milhões em estupros futuros evitados.

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