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Em versão olfativa do teste do espelho, cobras parecem reconhecer próprio cheiro

Esse possível sinal de autoconsciência só apareceu em cobras com vida social mais complexa, o que demonstra a importância da dessa habilidade na hora de interagir com outros espécimes.

Por Leo Caparroz
5 abr 2024, 18h00
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  • Existe uma coisa nos estudos sobre cognição chamada “teste do espelho”. Ele é bem intuitivo: você põe animais na frente de um espelho e vê se eles admiram o próprio reflexo ou pensam se tratar de outro bicho. Para nós, humanos, é óbvio que aquela imagem refletida é nossa – bebês a partir de 18 meses já sabem disso. Mas essa capacidade não é universal. 

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    O teste geralmente envolve colocar alguma coisa estranha na cara do bicho. Pode ser um pingo de tinta colorida no pelo, um adesivo, um pedaço de pano… É importante que essa anomalia esteja fora do campo de visão do animal – na testa, por exemplo –, de modo que ele só consiga percebê-la quando estiver de frente para o espelho.

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    Se o animal nota e investiga a marca quando vê seu reflexo, isso pode indicar autoconsciência – a habilidade de se tornar o objeto de sua própria atenção. Quando um animal pode identificar sua própria imagem no espelho, existe a possibililidade de que ele consiga diferenciar outros seres de si próprio, reconhecer que seus colegas também têm intenções e até se colocar no lugar de outros indivíduos.

    Autoconsciência não é para qualquer um. Grandes primatas, elefantes asiáticos, golfinhos e corvos são algumas das poucas espécies aprovadas nessa seleta lista animal. Se quiser saber um pouco mais sobre o teste do espelho, recomendamos ler este texto da Super.

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    Agora que você conhece o teste do espelho, vem aí o “teste do perfume”.

    Um grupo de pesquisadores queria conduzir o teste do espelho com espécies de cobras. Porém, como esses répteis não tem lá a melhor das visões, os cientistas tiveram que adaptar a execução do experimento para o sentido predominante dessas pegajosas: o olfato. 

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    A descrição do estudo foi publicada em um artigo no periódico especializado Proceedings of the Royal Society B. Nele, o trio de pesquisadores conta como pegou amostras de cheiro das cobras, modificou essas amostras e então observou se elas se reconheceriam e sentiriam curiosidade com a mudança.

    O teste foi aplicado em 36 indivíduos da espécie cobra-liga oriental (Thamnophis sirtalis sirtalis) e 18 índividuos de píton-real (Python regius). A primeira é considerada mais social e a segunda, mais solitária. Eles coletaram  óleo corporal das cobras esfregando pedaços de algodão pela sua pele.

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    Então, eles deixaram cada cobra sozinha com um entre cinco aromas: o seu próprio, o seu com um pouco de azeite adicionado, apenas azeite, um de outra cobra da mesma espécie e um de outra cobra com um pouco de azeite.

    Os cientistas prestaram atenção no tempo que as cobras passavam agitando a língua. Esse é o principal indicador do interesse de um indivíduo por um cheiro.

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    As cobras-liga orientais exibiam movimentos de língua muito mais longos quando eram expostas ao próprio cheiro com azeite, em comparação com as outras quatro possibilidades.

    “Elas só fazem movimentos longos com a língua quando estão interessadas ou investigando algo”, diz Noam Miller, um dos pesquisadores do estudo. Isso sugere que as cobras-liga podem reconhecer quando há algo diferente em si mesmas. “Eles podem estar pensando: ‘Isso é estranho, eu não deveria cheirar assim’”.

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    Por outro lado, as pítons-reais respondiam de forma parecida a todos os cinco cheiros. Os pesquisadores supõe que espécies mais sociais, o caso das cobras-liga orientais, sejam mais propensas a ter autoconsciência.

    Faz sentido. Outros animais autoconscientes, como nós, golfinhos e corvos, também são espécies com comportamentos sociais. A habilidade de se reconhecer parece essencial para interagir com outros espécimes da sua espécie. 

    Alguns pesquisadores ainda não compraram a ideia de que as cobras seriam capazes de se autorreconhecer. Já outros biólogos consideram as descobertas significativas – e argumentam que esse experimento é mais realista do que o teste do espelho.

    Afinal, uma superfície reflexiva não é nada comum na natureza. Contudo, encontrar e compreender a importância dos sinais químicos deixados por você e por seus parentes no ambiente é, provavelmente, um aspecto muito importante da interação rotineira entre esses animais.  

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