Empresa fabrica pele com células do próprio paciente
Tecnologia produz tecidos clonados – e pode revolucionar o tratamento de queimaduras graves. Veja como funciona.
Vítimas de queimaduras severas geralmente precisam passar por uma reconstrução cutânea. Hoje, isso é feito retirando pedaços de pele de outras partes do corpo, que são enxertados. Mas, dependendo do tamanho da queimadura, pode ser difícil conseguir pele em quantidade suficiente para realizar o procedimento.
A empresa suíça Cutiss (uma spin-off da Universidade de Zurique) desenvolveu uma tecnologia para tentar resolver isso: a denovoSkin, uma pele artificial feita em laboratório com células do próprio paciente.
Elas são multiplicadas sobre um hidrogel, que funciona como uma base para que se distribuam; depois são extraídas, na forma de tecido. Conversamos com a bióloga Daniela Marino, cofundadora e CEO da empresa.
Como o processo funciona?
Começamos fazendo uma biópsia, do tamanho de um selo, de uma região com pele saudável. Isolamos as células, para então combiná-las com colágeno e multiplicá-las em laboratório. O novo tecido é formado por epiderme [camada mais externa] e derme [a camada logo abaixo].
A técnica de reconstrução tradicional, usada hoje, aplica apenas uma pequena e fina camada de pele em cima do ferimento, o que geralmente resulta em cicatrizes e necessidade de cirurgias posteriores.
A denovoSkin é maior, o que promete diminuir as cicatrizes e também permite que ela cresça junto com o paciente. Conseguimos criar uma pele artificial com até 100 vezes o tamanho da amostra original, em três ou quatro semanas.
Como fica a aparência da pele artificial no paciente?
Em laboratório, a denovoSkin tem coloração rosa, devido a um composto químico usado no meio em que as células crescem. Quando colocada no paciente, ela não tem cor, porque não contém melanócitos [as células que dão cor à pele].
Um próximo passo será tentar transferir os melanócitos de uma área pigmentada para a denovoSkin do paciente, e com isso reproduzir sua cor de pele natural. Planejamos oferecer esse tratamento a pacientes que já tenham recebido a pele artificial.
Em que fase de desenvolvimento a tecnologia está?
Completamos o estudo clínico de fase 1 [que avalia a segurança do tratamento], e temos resultados positivos saindo do nosso estudo de fase 2 [que mede a eficácia], realizado com adultos e adolescentes que foram vítimas de queimaduras.
Estamos caminhando para o último estágio de desenvolvimento, e esperamos levar a tecnologia a pacientes em breve.