Enquete revela qual é – na média – o rosto de Deus
A voz do povo é a... foto de Deus. Estudo organizado por três psicólogos revela a aparência do Todo Poderoso segundo cristãos americanos.
Democracia é um negócio levado a sério (até demais) nos EUA. Depois de uma pesquisa de opinião pública para compor a música favorita do país – organizada na década de 1990 por dois artistas russos –, chegou a vez de decidir o rosto Deus com base no voto. Três psicólogos da Universidade da Carolina do Norte queriam saber se o cara sentado na nuvem, pelo menos na opinião dos cristãos, tem mesmo a aparência que lhe é atribuída na cultura popular e nas pinturas renascentistas: barba branca, idade avançada e jeitão de Dumbledore.
Para descobrir, eles arrebanharam 511 voluntários americanos auto-declarados cristãos e mostraram 300 pares de rostos a cada um deles. Os rostos não eram de pessoas reais. Tinham contornos incertos, borrados, e foram gerados no computador a partir da combinação dos traços de pessoas de diversas etnias e de ambos os sexos. Cada participante do estudo precisava selecionar, entre as duas imagens, a que mais se assemelhava, em sua opinião, a Deus. Após várias rodadas, conforme as feições favoritas de cada um eram sobrepostas, uma média visual começou a emergir.
Era a hora de ficar com medo. Afinal, em Êxodo 33:20, o Todo Poderoso em pessoa dá a dica: “não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá”. Até agora, felizmente, nenhum dos pesquisadores morreu. Citações bíblicas à parte, experimentos imagéticos como esse dão um retrato muito mais fiel dos pensamentos dos participantes que questionários verbais ou escritos.
Por exemplo: pouquíssimas pessoas admitiriam pensar que quem recebe auxílio financeiro de programas sociais é negro – por causa, obviamente, do racismo implícito na afirmação. Mas em um experimento que mostrou fotos de pessoas negras e brancas e perguntou qual dos dois recebia dinheiro do governo, pessoas negras foram escolhidas com muito mais frequência. Algo análogo – uma versão teológica do fenômeno – acontece com Deus. Quase nenhum fiel comentaria em voz alta as qualidades físicas humanas que atribui a ele, mas todo mundo que acredita em Deus tem alguma imagem mental dele. Usar recursos visuais é um bom jeito de trazer isso à tona.
Mas o que veio à tona, afinal? Bem, Deus é homem, jovem, branco e compreensivo. Tanto os homens quanto as mulheres, em média, concordaram que ele fosse do sexo masculino – um dado que foi destacado pelos pesquisadores. Já o anti-Deus (isto é, a imagem que contém todas as características que não foram atribuídas a Ele) ficou mais feminino e bravo, com traços puxados para o estereótipo de um indígena ou afro-americano. A comparação está aí embaixo. É bom lembrar que as imagens são extremamente imprecisas – afinal, são um resultado computadorizado, não um retrato artístico. O que interessa são os dados.
As conclusões também foram reveladoras do ponto de vista das urnas. Fiéis de orientação democrata tendiam a visualizar um Deus mais feminino e afro-americano, enquanto os republicanos pendiam para um homem caucasiano mais velho e poderoso – embora as diferenças sejam bem menos visíveis nesse caso (veja abaixo). Para evitar que narcisismo fosse confundido com ideologia neste teste, o resultado final foi recalculado levando em consideração a aparência do voluntário que deu as respostas. Em outras palavras, se uma pessoa de cabelo preto inconscientemente imaginasse Deus com um penteado idêntico ao seu, essa variável receberia um valor um pouco menor.
Do narcisismo, inclusive, vem a maior conclusão do estudo: independente de racismo e ideologia, o que todos os voluntários tiveram em comum é que imaginaram Deus, mesmo que só um pouquinho, à sua imagem e semelhança. No fundo, no fundo, o rosto do povo é mesmo o rosto do Todo Poderoso.