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Entenda de uma vez: o que é inteligência artificial

Há quem acredite que será inevitável: os computadores estão se tornando tão sofisticados que não tardará o dia em que serão tão competentes quanto nós.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 21 fev 2020, 17h31 - Publicado em 19 fev 2020, 17h31

Em outubro de 2017, Sophia recebeu cidadania da Arábia Saudita e fez um pronunciamento à Organização das Nações Unidas. Não seria nada demais, não fosse por um detalhe: ela é um robô.

Construída pelo engenheiro David Hanson, Sophia é capaz de reproduzir dezenas de expressões faciais, falar e manter algum tipo de conversação, uma proeza não desprezável do campo cada vez mais sofisticado da inteligência artificial. A coisa toda ainda parece um pouco teatral, e dificilmente alguém seria capaz de afirmar categoricamente que se trata de uma pessoa, ou seja, uma entidade capaz de autopercepção. Mas pode ser um prenúncio do que vem por aí.

É uma consequência inevitável de uma das mais espetaculares previsões da história da computação. Em 1965, o fundador da Intel, Gordon Moore, previu que os computadores iriam dobrar seu padrão de processamento a cada 18 meses, aproximadamente, conforme evoluíssem as tecnologias para empacotar o maior número possível de transistores em um chip.

Acabou que não era a cada 18 meses, e sim a cada 24 meses, e Moore atualizou seu postulado, que ficou conhecido como Lei de Moore, em 1975. Fato é que, desde então, a indústria da computação está seguindo rigorosamente essa curva exponencial, num fenômeno que se manifesta de forma cada vez mais clara no cotidiano. Em 20 anos, saímos dos celulares tijolão para os smartphones, e qualquer computador doméstico meia boca de hoje é milhares de vezes mais poderoso que os equipamentos do tamanho de uma sala que a Nasa usava na década de 1960.

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TRANSISTORES – Minidispositivos eletrônicos que servem como amplificadores e interruptores de sinais elétricos. Geram os 0 e 1 dos computadores. (Cristina Kashima/Superinteressante)
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Mas o cérebro humano, com seus neurônios, sinapses, neurotransmissores e impulsos elétricos, ainda é muito mais eficiente que qualquer supercomputador. As estimativas de capacidade de processamento dele variam, mas um valor médio está ao redor de 1 quintilhão de flops, para usar o linguajar de informática. Em compensação, o supercomputador mais rápido do mundo em operação em 2018 era o IBM Summit, cuja velocidade máxima registrada é de 122,3 quatrilhões de flops. Note que ainda não chegamos lá, mas é inevitável – e não tão distante – o dia em que um computador será capaz de fazer mais processamento que o cérebro.

Claro, como vimos anteriormente, não é só a capacidade de processamento que faz do cérebro uma máquina “consciente”. A arquitetura também precisa ser adequada. Isso cria dúvidas reais sobre se algum dia teremos computadores e robôs conscientes ou verdadeiramente mais inteligentes que nós. Mas a possibilidade nunca foi tão real.

Alguns feitos históricos impressionam. Em 1997, o supercomputador Deep Blue, da IBM, venceu um confronto de xadrez com o campeão mundial Garry Kasparov. Em 2011, a plataforma Watson, desenvolvida pela mesma gigante da informática, foi capaz de vencer os melhores jogadores humanos de um game-show de perguntas e respostas chamado Jeopardy!. Em 2017, um robô de inteligência artificial chamado Libratus bateu quatro dos melhores jogadores de pôquer do mundo num desafio de três semanas num cassino de Pittsburgh. É difícil negar a tendência, computadores estão dominando problemas cada vez mais complexos, antes exclusividade do ser humano.

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FLOPS – Operações de ponto flutuante por segundo, unidade usada em computação para medir desempenho em processamento de dados. (Cristina Kashima/Superinteressante)

Para Ray Kurzweil, guru da inteligência artificial e consultor do Google, a data em que veremos computadores com desempenho cognitivo geral similar ao dos humanos é 2029. Passando disso, começaremos a ver inteligência super-humana, o que o próprio Kurzweil, em seus devaneios, chama de singularidade tecnológica. O que isso significa? Boa pergunta. Ninguém nunca conheceu algo assim para dizer como é. Não por acaso, os pesquisadores chamam esse momento vindouro de “singularidade tecnológica”.

Há os otimistas, que acreditam que a IA do futuro poderá resolver todos os nossos problemas e construir um mundo perfeito para os humanos, e há os pessimistas, que apostam que a IA do futuro vai fazer um diagnóstico óbvio, o de que os humanos são prejudiciais a todo o resto e deviam ser eliminados. Seja lá como for, o futuro promete ser muito diferente do que tivemos até agora.

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