Faz apenas 70 mil anos que os ursos polares divergiram dos pardos
Novo estudo propõe que a evolução de características para lidar com o frio, incluindo a pelagem translúcida, é mais recente que a espécie humana.
Uma análise do genoma de 119 ursos polares, 135 ursos pardos (ou marrons) e dois ursos polares fossilizados concluiu que as duas espécies divergiram há apenas 70 mil anos — uma época extremamente recente em termos geológicos, em que ser humano anatomicamente moderno já existia e já havia populado a Eurásia.
Antes disso, havia apenas ursos pardos. Os ursos polares têm uma série de adaptações ao habitat gelado do Ártico, como sua pelagem de duas camadas, que é translúcida (pois é, os pelos não são brancos, são transparentes).
Outra característica importante é um sistema cardiovascular e um metabolismo capazes de lidar com uma dieta riquíssima em gordura animal, proveniente dos mamíferos marinhos — em geral, focas — de que ele se alimenta.
Se um urso pardo batesse o mesmo rango diariamente, ele engordaria um bocado, ficaria com o colesterol no talo e acabaria com as veias e artérias entupidas — mais ou menos como nós (rs).
Essas adaptações capilares e metabólicas são responsabilidade de um conjunto de sete genes. Quatro deles se tornaram alelos fixos nos ursos polares, ou seja: uma única variante do gene se provou a solução ideal para o habitat e é idêntica em todos os indivíduos da espécie.
Um grupo de biólogos moleculares da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, publicou o estudo no periódico BMC Genomics. Genes são bons para estudos cronológicos porque sofrem mutações com uma frequência previsível. Quanto mais diferenças existem entre as letrinhas de DNA de duas espécies, mais tempo faz que elas divergiram (o chamado “relógio molecular”).
Estudos mais antigos, que usaram outros métodos, haviam chegado a estimativas mais conservadoras para a data de divergência entre os dois ursos. Este, de 2010, falava em 150 mil anos, enquanto este, de 2012, sugeria 600 mil anos.
Outra dúvida é se o urso polar realmente descende do urso pardo ou se os dois são descendentes de uma espécie de urso mais antiga, o que também é uma hipótese válida.
Embora ainda não seja possível bater o martelo, a tendência dos estudos mais atualizados é indicar uma data cada vez mais recente para a separação das duas espécies. Uma análise de 2014, por exemplo, já falava em menos de 500 mil de anos (esse estudo analisou 79 ursos polares e dez ursos pardos).
Ou seja: para os ursos polares, conviver com os ursos pardos no mesmo planeta é um pouco como seria, para nós, conviver com neandertais. Se já é peculiar e fascinante dividir a Terra com tantos seres humanos diferentes de nós, é de se imaginar o quanto a História teria tomado outro rumo se houvesse duas espécies humanas por aí.