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Filhos do silêncio

A afasia impede a comunicação pela linguagem. É uma condição nada rara - só nos EUA, existe 1 milhão de portadores. Saiba mais sobre ela e como o cérebro descobre novas formas de expressão

Por Mariana Sgarioni
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 19 Maio 2012, 22h00

Você acaba de desembarcar num planeta distante. Ali, ninguém entende uma palavra sua. Ao pedir um copo de água, levam-no ao banheiro. Ao fazer um gesto de fome, dão-lhe um cobertor. Ao escrever que precisa de um remédio, oferecem-lhe uma peruca.

Pois é assim que se sente o afásico. De uma hora para outra, ele perde a capacidade de se comunicar por meio das palavras, seja falada, seja escrita. Sua inteligência, porém, continua intacta.

A condição acontece quando uma lesão ocorre no lado esquerdo dos lobos frontal e temporal, em áreas responsáveis pela linguagem. Pode ser por causa de um acidente vascular cerebral (AVC) ou por infecções, tumores, traumatismos e doenças degenerativas.

Existem 3 tipos mais comuns de afasia (veja quadro ao lado), que transitam entre as graves, caracterizadas pela perda total da fala e da escrita, e as de tratamento mais simples, como a perda de palavras, ou a fala distorcida, em câmera lenta, por exemplo. “A boa notícia é que existe tratamento e é possível melhorar bastante. Claro que isso vai depender do grau de lesão, motivação, idade e condições gerais de saúde do paciente”, afirma a médica Martha Sarno, professora da Universidade de Nova York e autora do livro The Aphasia Handbook.

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Depois de diagnosticada, a afasia é tratada normalmente com um conjunto de profissionais, entre eles médicos, fonoaudiólogos e psicólogos. Esses últimos exercem um papel fundamental, pois quem perde a capacidade de se comunicar pode sentir-se sozinho no mundo, com sua identidade abalada.

“Para a maioria dos pacientes, perder a fala é pior do que ter metade do corpo paralisada, uma vez que se trata de uma provação social”, afirma o neurologista Oliver Sacks. “No entanto, acabam aprendendo habilidades não linguísticas de comunicação, como inflexões vocais, expressões faciais, entonações diferentes, mudanças gestuais e de postura para expressarem o que querem.”

Além disso, com treinamento intensivo, é possível desenvolver atividades neurológicas relativas à fala em outras áreas do cérebro que não foram atingidas pela lesão, e assim reverter o quadro. Foi o que aconteceu com Herbert Vianna. Vítima de um acidente em 2001 quando pilotava um ultraleve, o cantor recuperou-se e voltou fazer shows.

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Os afásicos também ganham novas habilidades. É o que mostra um estudo publicado em 2000 na revista científica Nature. Segundo a coordenadora da pesquisa, a psicóloga cognitiva Nancy Etcoff, os afásicos mostraram ser mais capazes de detectar mentiras do que as pessoas sem nenhum distúrbio de linguagem. Isso porque eles dominam a leitura da linguagem corporal, que transparece a mentira.

O ator americano Carl McIntyre afirma que passou a perceber um mundo de novas possibilidades depois que ficou afásico, vítima de um AVC, há 5 anos. Ao colocar seu filho para dormir, sentiu tontura e seu braço e perna direita formigarem com muita força. Desmaiou e acordou no hospital, com afasia, paralisia parcial e dificuldades de coordenação motora. Sua história de superação se tornou o documentário Aphasia, selecionado para diversos festivais americanos e europeus de cinema no ano passado. Sua determinação no tratamento o fez recobrar boa parte das funções em 18 meses – embora ele ainda tenha dificuldades com sentenças longas. “Eu nunca mais serei o mesmo, mas sei que posso ser melhor, cada vez melhor”, resume.

 

Para saber mais

The Aphasia Handbook
Associação Nacional de Afasia dos EUA, sem tradução para o português.
www.anafasicos.org

Associação Nacional de Afásicos do Brasil.

 

Conheça os principais tipos de afasia

Afasia de Wernecke
Dano no lobo temporal

Há grande dificuldade para compreender o sentido das palavras. A fala é fluente, com entonação correta, mas as palavras são aleatórias, muitas vezes sem significado. No entanto, é comum que o paciente acredite falar corretamente.

Afasia de Broca
Dano no lobo frontal

Compreende-se bem o que se ouve e lê, mas existe uma dificuldade para se exprimir, pois falta o vocabulário. Em alguns casos, o afásico escolhe uma palavra qualquer para dizer todas as coisas – como “ai, ai, ai”.

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Afasia Global
Dano em vastas áreas linguísticas do cérebro

É o caso mais grave. Nele, perdem-se tanto a capacidade de compreender quanto a de falar, ler e escrever. Mesmo assim, o paciente tem consciência de tudo à sua volta e pode expressar seus sentimentos com gestos.

 

 

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