Fim do campo magnético
Análises de rochas indicam que o campo magnético da Terra de vez em quando some do mapa, diminuindo nossa proteção contra ameaças do espaço
José Lopes
Uma das coisas mais sensacionais a respeito do nosso planeta é a maneira como seu interior liquefeito o transforma numa espécie de gigantesco eletroímã. Mais ou menos como acontece dentro de uma panela em ebulição, os metais derretidos no coração da Terra circulam por convecção, o que leva ao surgimento de correntes elétricas (por causa dos elétrons em movimento no metal) e, com base nelas, ao nascimento de um campo magnético.
Tal campo é parte importante da armadura protetora do nosso planeta diante das ameaças do espaço, e sua orientação em relação ao eixo da Terra é responsável por determinar o “norte magnético” apontado pelas bússolas. O problema é que, de tempos em tempos, esse campo enfraquece antes de inverter sua orientação – e talvez suma totalmente nesses momentos, deixando-nos bem mais vulneráveis (veja ao lado).
Como diabos é possível saber que, no passado distante, algo tão aparentemente imaterial quanto um campo magnético mudou sua orientação? Graças às rochas vulcânicas. Materiais desse tipo contêm quantidades apreciáveis de elementos como o ferro, o qual, como sabemos, responde com facilidade a um campo magnético. Conforme essas rochas vão se solidificando após deixar o interior tórrido da crosta terrestre, o ferro (e outros elementos) em sua composição acabam ficando alinhados, seguindo a orientação do campo magnético.
A questão é que, conforme rochas vulcânicas mais e mais antigas eram estudadas, os geólogos passaram a verificar que essa orientação às vezes estava invertida. Na verdade, hoje se sabe que a atual orientação do campo magnético terrestre tem “apenas” 780 mil anos e que, quanto mais se recua no tempo, mais reversões aparecem, ocorrendo num ritmo aparentemente aleatório.
O que parece acontecer é que os movimentos de material líquido no interior da Terra são inerentemente caóticos, e isso às vezes acaba levando ao enfraquecimento e à subsequente reversão da polaridade do campo magnético. E é aí que mora o perigo.
A boa notícia é que os estudos sobre as reversões de polaridade anteriores indicam que o campo magnético nunca some totalmente antes de se inverter. Esperemos que a coisa continue assim, não é mesmo?
O PIOR CENÁRIO – Sem norte
O campo magnético funciona como uma barreira importante para partículas de alta energia que chegam até nós vindas do espaço, como os raios cósmicos, que são cancerígenos. Com seu enfraquecimento, a Terra seria bombardeada por um nível elevado dessas partículas, talvez resultando numa epidemia de câncer. Se o campo magnético sumisse totalmente, até a densidade da atmosfera poderia ser afetada.