Maurício Horta
POPULAÇÃO – 1993/maio/ed. 68
Cidades se agigantam em países pobres, com populações famélicas tomadas por epidemias velhas e novas. Democracias são ameaçadas de extinção. Governos nacionais se enfraquecem – e em alguns casos são substituídos por uma combinação de feudalismo e tribalismo. E por fim a humanidade volta à Idade Média. Era o que previa o biólogo americano Paul Ehrlich, na SUPER de maio de 1993. A expectativa era de que a população mundial, então de 5,5 bilhões, aumentaria em 1 bilhão em 11 anos. A aids era só um sinal do fim dos tempos.
Em 2011, chegamos a 7 bilhões de habitantes. Mas, apesar de sermos tantos, nosso cenário é bastante diferente do previsto por Ehrlich. Desde 1950, a taxa mundial de fertilidade só cai – 5 crianças por mulher para 2,5 -, o que deve estabilizar a população mundial em 9 bilhões em 2050, 70% dela em cidades. Para garantir que não passemos fome, será necessário aumentar em 70% a produção de alimentos, segundo a FAO, agência da ONU para agricultura e alimentação. E recursos naturais para isso não faltarão, desde que 3 problemas sejam resolvidos: a mudança climática, a degradação ambiental das áreas cultivadas e a expansão do cultivo de biocombustíveis no lugar de alimentos.
Isso não significa que o mundo estará numa boa. O problema por vir é exatamente a baixa taxa de fertilidade. Já temos 80 países abaixo da taxa de reposição demográfica, de 2,1 bebês por mulher. Isso significa que essas nações estão envelhecendo e terão dificuldade para arranjar mão de obra ativa para sustentar seus aposentados. E o problema não será apenas na Europa, cuja população cairá de 730 milhões para 664 milhões na metade do século. Faltará gente na China. Ou, pelo menos, gente jovem. Lá, mulheres têm em média 1,4 filho, segundo o censo de 2010. Somando a isso o aumento de expectativa de vida, em 2050 o país terá 30% de seu 1,3 bilhão de habitantes acima de 65 anos. O risco é de que o país fique velho antes de ficar rico (o que também vale para o Brasil, que tem 1,9 filhos por mulher, segundo o censo de 2010). Quer mais? Com a política de filho único, o país estimulou o infanticídio e o aborto de meninas. Hoje já há 118 meninos para cada 100 meninas. Quando virarem adultos, haverá um batalhão de homens solteiros, o que não é uma receita para estabilidade social.
A solução pode vir do continente mais pobre do mundo. Na virada do século, a população africana deve subir de 1 bilhão para 3,6 bilhões. Será o continente mais jovem num mundo envelhecido. Com isso, países populosos como Nigéria, Etiópia, Tanzânia e Quênia podem seguir um caminho semelhante ao de China, Vietnã, Indonésia e de outros países asiáticos: sua população urbana jovem servir de combustível para a industrialização e o enriquecimento. Só que a história não é movida apenas pela demografia. O futuro do mundo vai depender de como os países africanos serão governados.
Como seria – O mundo não daria conta do aumento populacional. O resultado seria fome, epidemia e caos político.
Como é – O crescimento da população freiou, a produção de alimentos cresceu e nunca se viveu num mundo tão rico.
Como será – A nova bomba será o envelhecimento da população mundial. E o futuro estará nas mãos de uma África jovem.
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