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Giganotossauro: o novo velho rei dos animais

O animal pré-histórico, descoberto em meados do ano passado na Patagônia, no sul da Argentina, põe fim aos cem anos de reinado do tiranossauro, conhecido desde o início do século como o maior carnívoro a ter pisado na face da Terra.

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Atualizado em 31 out 2016, 18h32 - Publicado em 31 jan 1996, 22h00
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  • Flávio Dieguez

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    Grandão, comia 1 tonelada de carne por dia

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    Quase tudo o que sabemos dos dinossauros veio de fósseis do hemisfério norte. Isso quer dizer que só conhecemos metade da história. A outra metade, que se desenrolou no hemisfério sul, ainda é uma incógnita. Está apenas começando a ser pesquisada. Mas o início é, no mínimo, espetacular. A prova mais recente disso foi a descoberta no ano passado na Argentina de um predador monumental. Possivelmente o maior comedor de carne de toda a história dos bichos, capaz de engolir perto de 1 tonelada entre almoço e jantar. “A nova espécie é uma das mais importantes já encontradas”, diz Rodolfo Coria, paleontólogo do Museu Carmén Funes, em Neuquén, Argentina. Em setembro, ele anunciou a novidade na revista inglesa Nature.

    No artigo, ele diz ter recuperado 70% do esqueleto, o bastante para reconstruir o corpo e classificá-lo com precisão (veja a ilustração abaixo). À SUPER, por telefone, Coria disse que devido à pressa em anunciar o achado deixou de incluir na Nature diversas outras peças. “Em janeiro vamos voltar ao local e ver se achamos mais alguma coisa”. O que já está disponível revela a extrema semelhança do giganotossauro com o tiranossauro, a despeito da imensa diferença de tempo e de espaço que os separava. O primeiro andou há 100 milhões de anos pela Patagônia e o segundo, trinta milhões de anos mais tarde, em várias regiões do hemisfério norte, nenhuma delas ligada à América do Sul.

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    Também é impressionante notar que o monstro do sul era maior do que o do norte. Claro: como só há um exemplar da nova espécie, não dá para fazer uma comparação definitiva. Mas a confiança vem de dois fatos. Primeiro, o espécime argentino é maior que o maior de todos os fósseis de tiranossauro conhecidos, um espécime de Dakota do Sul, Estados Unidos, chamado Sue. O fêmur do giganotossauro, com 1,43 metros, é 5 centímetros mais longo que de Sue. Em segundo lugar, e ainda mais importante, seus ossos são bem mais grossos, indicando que ele era bem mais pesado do que Sue. A diferença é grande: Coria estima que o giganotossauro era pelo menos 2 toneladas mais pesado do que a média dos tiranossauros.

    A Patagônia é uma mina de fósseis

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    A área em que o giganotossauro ficou petrificado por 100 milhões de anos, no noroeste da Patagônia, está se transformando rapidamente numa das capitais mundiais dos dinossaurólogos. O esqueleto do novo carnívoro é apenas a última das maravilhas guardadas por lá. A partir de 1973, as rochas antiquíssimas da região revelaram a existência dos herrerassauros, os quais, como logo se percebeu, eram mais primitivos do que qualquer outro grupo de dinossauros. Bem antes de 200 milhões de anos, eram minúsculos em comparação com os gigantes que viriam depois. Mediam uns poucos metros e devem ter sido dominados pelos ancestrais dos jacarés e crocodilos.

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    O primeiro a descrever um herrerassauro, no início da década de 70, foi o argentino Juan Luis Benetto, mas no início desta década o americano Paul Sereno, da Universidade de Chicago, ampliou consideravelmente a coleção. Em 1991 Sereno estabeleceu um recorde: desenterrou o dinossauro mais antigo que se conhece, com 225 milhões de anos. O eoraptor, como foi chamado, com apenas 1 metro, comprova a tese do aumento persistente de tamanho dos dinossauros ao longo do tempo.

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    Caçada na terra do tango

    Na opinião de Coria, esses velhíssimos restos petrificados configuram uma hipótese importante. A de que os dinossauros do hemisfério sul precederam sistematicamente os do hemisfério norte. “Como se o sul estivesse sempre à frente do norte em termos da evolução”, explica ele. O giganotossauro reforça bastante essa impressão porque dominou o Cretáceo médio e o tiranossauro, com traços muito semelhantes, surgiu bem depois disso, no Cretáceo superior. O mais curioso é que nem se pode falar que um é parente do outro, disse Paul Sereno ao jornal americano The New York Times. “Como se desenvolveram em terras isoladas uma da outra, os descendentes do giganotossauro não poderiam ter se deslocado para o norte e se transformado no tiranossauro”. Em outras palavras, as duas bestas surgiram com o mesmo aspecto, mas de maneira totalmente independente, cada uma em seu lugar.

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    Coria acrescenta mais um dado importante para esse debate. É que antes do giganotossauro os habitats da Patagônia eram dominados por um outro grupo de predadores, os abelissauros. “Eram bem diferentes. E como desaparecem do registro fóssil, parece que foram substituídos pelos giganotossauros”. Além disso, uma descoberta sensacional de 1991 mostra que, nessa mesma época, morava na Patagônia o argentinossauro, um herbívoro com dimensões de montanha. Com 100 toneladas e quase 50 metros de comprimento, ele é o maior dinossauro que se conhece.

    Em resumo, a partir de 100 milhões de anos atrás, houve uma mudança geral no modelo dos animais sulistas. E esse modelo, caracterizado especialmente pela anatomia do giganotossauro, teria sido “copiado” pela evolução na parte norte do planeta. Claro que isso é hipótese. Mas é justamente pela carência de dados que o novo fóssil causou impacto. Ele deve nos ensinar muita coisa sobre os grandes predadores. “Eles são naturalmente raros e quanto mais crescem, mais escassos ficam”, explica Coria. “Bem conhecido, só temos mesmo o tiranossauro, do qual já se desenterraram doze esqueletos mais ou menos completos”. Mas o fóssil bem preservado do giganotossauro já ampliou um pouco o material que a Paleontologia tem para analisar. E agora que se sabe que ele existe, certamente vai crescer a busca de outros gigantes na terra do tango.

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    Para saber mais

    The Dinosaur Data Book, David Lambert, Avon Boocks, Nova York, 1990

    The Natural History Museum Book of Dinosaurs, Tim Gardom e Angela Milner (consultora científica), Virgin Publishing, Londres, 1993

    Le Monde Perdu des Dinosaures, Jean-Guy Michard, Gallimard, 1989, Paris

    Onde morava

    A cidade de Neuquén fica a cerca de 1 000 quilômetros de Buenos Aires, não muito longe da Cordilheira dos Andes e dos balneários de Bariloche, um pouco mais ao sul. A formação geológica em que se desenterraram os restos margeia o Rio Limay, a 15 quilômetros de Neuquén.

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    Reserva de caça

    Ele pegava as presas numa paisagem que lembrava a atual savana africana ou o cerrado brasileiro. Era uma planície pontilhada de lagoas e vegetação rasteira. Também tinha coníferas (como os pinheiros do Paraná), das quais se acharam pedaços petrificados junto aos ossos do caçador.

    O terror dos pampas

    Veja nesta página onde ele foi encontrado, os restos que sobraram de seu corpo e como era o território onde imperava sem rival.

    Fera em números

    Altura: 4 metros

    Comprimento: 12,5 metros

    Peso: 6 a 8 toneladas

    Crânio: 1,52 metros

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    Dentes: 21 centímetros

    Classificação

    Os ossos mostram que, como o tiranossauro, ele era um terópode, um dos dez grandes grupos em que se dividiam os dinossauros. Entre os terópodes pertencia ao subgrupo dos tetanúrios.

    Giganotossaurus carolinii

    Em latim, gigan significa gigante e saurus, réptil. Noto, em grego, significa do sul. O segundo nome, carolinii, é uma homenagem ao mecânico Rubén Carolini, o descobridor.

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    Eles tinham estaturas diferentes. Mas, em ferocidade, eram iguais

    Dentes e unhas como navalhas, alta velocidade de ataque e músculos de aço eram armas para assolar as grandes manadas de herbívoros. Conheça, aqui, os mais agressivos caçadores do período Cretáceo.

    Gênio da raça

    Velociraptor

    Para os paleontólogos, um dos mais perigosos carnívoros de qualquer época. Muito rápido, cortava com as unhas em forma de foice nos pés. Com um cérebro privilegiado para um dinossauro (não seria páreo para um mamífero), organizava os ataques em bando.

    Período de 150 a 65 milhões de anos atrás comprimento de 1,8 a 4 metros

    peso 250 quilos

    fósseis América do Norte e Ásia

    Êxito mundial

    Alossauro

    A prova de que foi um predador de sucesso é o fato de se encontrar por todos os continentes. Peso intermediário entre o velociraptor e o tiranossauro. Com um cérebro proporcionalmente pequeno, podia não ser capaz de planejar ataques. Mas se acredita que enfrentava as presas maiores em grupo.

    Período de 200 a 70 milhões de anos atrás

    comprimento de 10 a 11 metros

    peso 1,5 toneladas

    fósseis todos os continentes

    Peso-pesado

    Tiranossauro

    Praticamente tão comprido como o alossauro, devido à cauda mais curta, era muito mais encorpado. Pesava quase quatro vezes mais. Também possuía mandíbulas enormes, com as quais poderia engolir um homem inteiro. Ou parti-lo ao meio com os dentes de até 18 centímetros. Era o ápice da cadeia ecológica. Assim como o leão, hoje, era uma ameaça para qualquer animal sem ser ameaçado por nenhum.

    Período de 70 a 65 milhões de anos atrás

    comprimento 11 metros

    peso 5 toneladas

    fósseis América do Norte e Ásia

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