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Há 26 anos, um cometa acertou Júpiter – e deixou todo mundo preocupado com a Terra

A colisão despertou a consciência de cientistas e políticos para a importância de investir na defesa planetária.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 24 set 2020, 12h25 - Publicado em 9 jul 2019, 21h56

Os dias entre 16 e 22 de julho de 1994 foram extremamente importantes para a comunidade astronômica: um grande cometa despedaçado colidiu com Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Os impactos criaram manchas escuras que permanecerem durante meses na atmosfera do gigante gasoso.

Foi a primeira vez que astrônomos tiveram a chance de acompanhar, em tempo real, a colisão de um cometa com um planeta.

Além de ter fornecido aos cientistas dados inéditos, o evento também soou a sirene para o fato de que o Sistema Solar não é tão estático quanto parece. Grandes colisões não eram coisa do passado distante – e se Júpiter estava vulnerável, a Terra também podia estar.

Caso tivesse atingido nosso planeta, o resultado provavelmente teria sido uma catástrofe parecida com a que dizimou os dinossauros, há 66 milhões de anos. “O Shoemaker-Levy 9 foi meio que um soco no estômago”, disse em comunicado da NASA a astrônoma Heidi Hammel, que coordenou estudos importantes ao longo do acontecimento.

“Ele realmente reforçou nosso entendimento do quão importante é monitorar nossa vizinhança local, e entender qual é o potencial para impactos na Terra no futuro”, explica a pesquisadora, líder das observações realizadas com o Hubble.

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Cometas são bolas congeladas de gás e poeira que orbitam o Sol e formam uma das classes de objetos que podem causar imensos estragos quando acertam planetas. Os outros são asteroides, restos agregados do material rochoso que formou o Sistema Solar.

O Shoemaker-Levy 9 havia sido descoberto só um ano antes, em 1993. Logo ficou claro que ele estava em rota de colisão com Júpiter. Ao investigar com mais atenção, os cientistas descobriram que ele havia sido capturado pela gravidade joviana em algum momento nos anos 60 ou 70, e que permaneceu orbitando o gigante gasoso até julho de 1992, quando foi fragmentado pelas intensas forças gravitacionais.

Ao todo, 21 pedaços do SL9 caíram em Júpiter durante aqueles seis dias de 1994. O tamanho desses fragmentos variava bastante: alguns tinham centenas de metros de diâmetro, enquanto o maior media enormes dois quilômetros.

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Ele caiu no dia 18 e formou na atmosfera uma “cicatriz” de 12 mil quilômetros de diâmetro – a Terra caberia ali dentro.

Graças à antecedência da descoberta da colisão, os cientistas puderam planejar com calma uma verdadeira força-tarefa global de observações dessa oportunidade única. “Esses impactos juntaram pesquisadores de cometas, especialistas na atmosfera de Júpiter e astrônomos, que se uniram para discutir como iriam observar o evento”, disse Kelly Fast, gerente do Programa de Observações de Objetos Próximos à Terra, da NASA. Além do Hubble, o telescópio IRTF no Havaí e a sonda Galileo, que estava viajando rumo à Júpiter, registraram o impacto.

A principal contribuição do evento foi o entendimento do que acontece a um planeta após sofrer um impacto tão violento. Com isso, o próprio conceito de “defesa planetária” foi inventado.

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As informações fornecidas pelo Hubble sensibilizaram os congressistas americanos para investir mais em levantamentos para detectar asteroides. Em 1998, a NASA foi direcionada a detectar 90% dos objetos maiores que um quilômetro nas redondezas terrestres, meta batida em 2010.

Agora, a nova meta é identificar a mesma quantidade de corpos menores, entre 140 metros e um quilômetro, que também causariam danos no caso de um impacto.

Hoje em dia, o assunto é levado muito a sério: existem escalas para quantificar o risco de colisões e protocolos a serem seguidos no caso de uma confirmação. E é essencial que essas pesquisas sigam em relevância – um dia, pode ser a nossa sobrevivência em jogo.

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