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Imaginar sons que causaram traumas pode ajudar a superá-los

Sabe aquela música ou aquele estouro que lembra um momento ruim? Tê-los na sua memória pode ser a chave para esquecer o que passou

Por Ingrid Luisa
22 nov 2018, 16h51

Alguns sons (assim como outros sentidos humanos) nos fazem lembrar de certas situações: aquele ilariê que te leva para a infância, a música romântica que tocou durante durante um encontro ou aquele hit triste que embalou o pé na bunda que você levou. Se tem alguma canção ou barulho que te lembra um momento ruim, temos uma boa notícia: é possível quebrar essa associação.

Segundo um novo estudo, publicado nesta quarta-feira (21) no periódico Cell, imaginar o som é um bom caminho. Como assim? Na pesquisa, 68 participantes saudáveis foram treinados para associar sons agudos ou graves específicos com um choque elétrico desconfortável, mas não doloroso. Depois, eles passaram por três situações: foram expostos aos mesmos sons do procedimento anterior (mas sem levar os choques); tiveram que imaginar aqueles sons; e, por último, precisaram imaginar sons agradáveis e calmos, como os ​​de pássaros ou chuva.

Essas etapas faziam parte de um processo que levaria à “extinção”: processo em que, depois de conectar um som a algo ruim, trabalha-se com ele separado do trauma para dissociar as duas coisas. O objetivo dos cientistas era saber se apenas imaginar o som, e não ouvi-lo de verdade, funcionaria para a cura do trauma.

E foi constatado que sim: aqueles que imaginaram os barulhos diminuíram suas respostas de medo aos sons reais tão bem quanto os que realmente os ouviram. Observando a atividade cerebral dos participantes, os pesquisadores constataram que as mesmas áreas eram estimuladas nas duas situações.

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“Em muitos casos, quando estudamos como reagimos a estímulos importantes, usamos sinais is no ambiente e medimos nossas respostas a eles. Mas, ao mesmo tempo, muitos processos internos acontecem em nossos cérebros: imaginamos, planejamos, criamos expectativas, fazemos previsões, e isso tudo também nos impacta”, disse a neurocientista Daniela Schiller, coautora do estudo.

Para os pesquisadores, o trabalho ajuda a entender e a explicar por que a imaginação, já amplamente usada como ferramenta de terapia, pode auxiliar no tratamento de distúrbios de ansiedade. Reviver traumas – de maneira segura, controlada e com acompanhamento de um especialista – usando apenas as lembranças é uma ótima maneira de superá-los.

Apesar de mais estudos serem necessários, os experts acreditam que estamos no caminho certo. De acordo com eles, quanto mais entendermos os mecanismos da nossa massa cinzenta, melhor faremos uso dela: “Ao entendermos como nosso cérebro funciona, vamos nos tornar usuários mais sofisticados dele”, disse Schiller.

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