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Jacarés estão comendo tubarões na costa dos EUA

Os dois deveriam reinar sem atrito em suas respectivas cadeias alimentares, mas ambos frequentam estuários — e os tubarões acabam se dando mal

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 out 2017, 17h00 - Publicado em 18 out 2017, 13h07

No cinema, a regra é clara: jacarés mordem pessoas no pântano, tubarões mordem pessoas no mar. De preferência com direção de Steven Spielberg (e a épica trilha sonora de duas notas de John Williams).

Na natureza, nem tanto. O biólogo James Nifong, da Universidade do Kansas, descobriu que os alligators — um tipo específico de jacaré que só habita a região sudeste dos Estados Unidos — estão almoçando tubarões com frequência no litoral do golfo do México e na costa do Atlântico.

“No artigo científico, nós documentamos alligators comendo quatro novas espécies de tubarões e uma espécie de raia”, explicou Nifong em comunicado. “Antes disso, havia apenas algumas observações feitas em uma ilha na costa da Geórgia. Agora nós sabemos que essas interações ocorrem do Atlântico, dão a volta na península da Flórida e chegam à costa do golfo.”

Na teoria, os dois predadores deveriam reinar sem atrito em suas respectivas cadeias alimentares. Afinal, um só nada em água doce, o outro, só em água salgada. Na prática, existe um meio termo: tanto répteis quanto peixes marinhos frequentam estuários, ambientes aquáticos de transição entre um rio e o mar. Nesses lugares se formam bolsões com maior ou menor concentração de sal, que permitem a coexistência de espécies que normalmente não tropeçariam uma na outra. Para a alegria dos jacarés, é justamente nesses lugares — mais protegidos e fechados — que as mamães tubarão gostam de criar seus filhotes.

“A frequência com que um predador come o outro tem a ver com o tamanho deles”, conta Nifong, que instalou aparelhos de GPS nos jacarés e extraiu amostras de seus estômagos para chegar a essas conclusões. “Se um pequeno tubarão passa nadando por um alligator e o alligator tem a sensação de que pode abatê-lo, ele vai fazer isso. Mas nós lemos algumas histórias mais antigas que envolviam tubarões maiores comendo répteis menores.”

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Em recortes de jornal do século 19 tirados do baú por Nifong, os relatos são dignos de filme trash. Em um artigo de 1888, intitulado Tubarões e jacarés: um duelo furioso na costa da Flórida , o observador narra um encontro letal entre cinco ou seis répteis — o maior deles com 4,65 m — e quantidade similar de tubarões, de espécie e tamanho não especificados. “Durante a altercação, os tubarões removeram os membros e porções da cauda de vários dos alligators envolvidos na escaramuça.” Outro relato, este publicado no jornal The Palatka Daily News em 1884, fala que uma mordida mortal desferida no abdômen de um jacaré por um tubarão partiu o animal em duas metades.

Vale lembrar que há várias espécies de tubarão por aí, e nem todas são tão dentuças ou perigosas. Mesmo assim, há pesos-pesados entre os que disputam espaço com os répteis nos estuários norte-americanos. Um deles é o tubarão-enfermeiro (ou tubarão-lixa) que pode chegar a oito metros quando adulto. A predação excessiva de filhotes preocupa pesquisadores e ativistas que se dedicam à preservação de espécies.

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