Lobos também podem se apegar a humanos, diz estudo
Os lobos se equipararam aos huskies siberianos em um teste feito pela Universidade de Estocolmo – mas isso não significa que você deve sair adotando filhotes por aí.
A família Stark, de Game of Thrones, está de prova: da mesma forma que os cachorros, os lobos também podem se apegar aos humanos se forem criados juntos desde cedo. Essa é a conclusão de um estudo feito pela Universidade de Estocolmo, na Suécia.
No experimento, 12 cães da raça husky siberiano e 10 lobos cinzentos europeus foram submetidos à mesma criação: todos foram “adotados” quando tinham 10 dias de vida, e permaneceram sob o cuidado dos humanos por 23 semanas – pouco mais de cinco meses.
Após esse período, os animais passaram por um experimento chamado “Strange Situation Test”, um método criado nos anos 1970 originalmente para testar o apego de crianças aos seus cuidadores. Nos últimos 20 anos, esse teste também tem sido adaptado para cães – e agora, lobos.
Funciona assim: a cuidadora (que representa o papel de “mãe”) entra em uma sala com o animal e interage com ele, brincando ou fazendo carinho, por exemplo. Depois que a “mãe” sai, entra uma mulher desconhecida para o animal, que também interage com ele. As duas mulheres se revezam nesse esquema algumas vezes.
Tanto os cães quanto os lobos demonstraram mais afeto, passaram mais tempo cumprimentando e permitiram maior contato físico com a cuidadora que já era familiar. Também era mais provável que os animais seguissem a cuidadora até a porta quando ela saía da sala.
O resultado não foi surpreendente para os pesquisadores. Outros estudos já haviam apresentado conclusões semelhantes, embora com metodologias diferentes. Afinal de contas, foi graças a esse instinto dócil com os humanos que os lobos (ou melhor, cães), viraram o melhor amigo do homem.
O lobo foi o primeiro animal a ser domesticado pelos humanos. Na pré-história, as matilhas de lobos e grupos de humanos se aproximaram, mas a amizade só se consolidou com os animais mais dóceis. Rolava uma troca mútua de alimento e proteção entre as duas espécies. A partir daí, o homem foi selecionando ninhadas cada vez mais mansas e afetuosas, enquanto as mais agressivas permaneciam distantes. Com o tempo, esse grupo dócil de lobos deu origem a uma nova espécie: os cães.
O fóssil mais antigo de um cachorro (Canis familiaris) data de 15 mil anos atrás. No entanto, análises genéticas indicam que a espécie divergiu dos lobos (Canis lupus) há 30 mil anos. Isso pode ter ocorrido mais de uma vez, com os cães evoluindo de populações distintas de lobos.
Apesar das semelhanças, há um ponto em que os lobos divergiram dos cães durante o teste. A espécie selvagem demonstrou mais medo e estresse quando teve que lidar com a pessoa estranha. Eles ficaram encolhidos, com o rabo entre as pernas e se afastaram do humano. Os huskies, por outro lado, não se sentiram desconfortáveis.
Os lobos só relaxavam quando o cuidador voltava para a sala – mesmo que a pessoa estranha ainda estivesse lá. Os pesquisadores pretendem continuar estudando as semelhanças e diferenças entre lobos e cães para esclarecer a história evolutiva entre as duas espécies.
“Se alguma variação do apego aos humanos existe em lobos, esse comportamento pode ter sido um alvo em potencial para pressões seletivas exercidas durante a domesticação”, disse a pesquisadora Christina Hansen Wheat, em nota.
A pesquisa foi publicada no periódico Ecology and Evolution.