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Mamíferos estão se adaptando à vida noturna para evitar o ser humano

Análise da rotina de 62 mamíferos selvagens revela que eles adotam hábitos noturnos para não nos encontrar – o que pode desequilibrar ecossistemas

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
15 jun 2018, 16h56

Muitas eras geológicas atrás, quando todos os continentes da Terra ainda estavam unidos em uma massa única e ressecada chamada Pangeia, um bando de répteis grandalhões tomou conta do planeta e passou milhões de anos no comando: os dinossauros. Nessa época, leitor, o animal que daria origem a você era uma espécie de ratinho franzino. Só saía da toca à noite, enquanto todo mundo estava dormindo, para caçar insetos e minhocas. Esse mamífero old school já dominava tecnologias biológicas familiares, como pelos e glândulas mamárias, mas não era páreo para a força bruta e as escamas (ou penas) dos reis do pedaço.

Foi preciso um meteoro, há 68 milhões de anos, para virar o placar a nosso favor. A cacetada cataclísmica limpou o terreno e quem sobreviveu foi justamente o bichinho que já vivia escondido por precaução. Ele prosperou e deu origem a elefantes, girafas, capivaras e todos os outros animais que alimentam seus filhotes com leite.

Hoje, um dos membros dessa lista – um macaco pelado – tomou conta do planeta e já está há uns bons milhares de anos no comando. Ele atende pelo nome de “ser humano”. E, ironicamente, está empurrando os demais mamíferos de volta para onde eles vieram: o escuro. Pesquisadores liderados por Kaitlyn Gaynor, da Universidade da Califórnia, vasculharam 76 estudos sobre a rotina de 62 mamíferos de seis continentes. E concluíram que não estamos apenas destruindo habitats e os animais em si, mas que também estamos roubando tempo deles.

“Um animal que em uma situação típica dividiria seu tempo igualmente entre o dia e a noite aumenta sua proporção de atividade noturna para 68% do total quando é perturbado por um ser humano”, afirma o relatório, publicado na Science. O conceito de perturbação adotado foi bem abrangente. Entraram na conta atividades abertamente letais ou nocivas ao meio ambiente, como a caça, a extração de minérios e a agricultura – mas também interferências mais discretas, como trilhas de caminhada que cruzam mata nativa. Todas elas dispersaram animais com a mesma eficiência – o grau de letalidade da atividade não mudou o tamanho do incômodo dos demais seres vivos com a nossa presença.

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83% das 114 medições acusaram um aumento na atividade noturna das espécies analisadas. Mas é interessante pontuar que as alterações na rotina dos bichos nem sempre são tão óbvias quanto uma simples mudança de horário. Por exemplo: entre ursos-pardos (Ursus arctos), machos geralmente têm mais acesso a alimento que fêmeas. Com a queda geral das atividades durante o dia, as fêmeas passaram a aproveitar a luz do sol para caçar em paz, sem a população masculina para encher o saco.

A mudança de hábito gera desequilíbrio ecológico. Por exemplo: um predador do topo da cadeia alimentar que passe a se alimentar de presas mais comuns à noite pode liberar uma população de animais diurnos para crescer sem controle. O oposto também é possível. Um animal herbívoro que durante o dia pasta em relativa paz, quando sai à noite, pode tropeçar em um carnívoro noturno que lhe é desconhecido – e acabar virando jantar sem querer.

Agora que sabemos que o ser humano afeta a natureza no tempo, e não só no espaço, o próximo passo é aprofundar os estudos com essa abordagem – e desenvolver estratégias de preservação que também levem em consideração o relógio.

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