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Memória – Parte 4 – O futuro da memória

Já está provado que é possível implantar um chip de lembranças no cérebro. E vêm aí os remédios que turbinam a memória. Você usaria?

Por Gisela Blanco e Bruno Garattoni
Atualizado em 5 jul 2018, 12h49 - Publicado em 5 fev 2011, 22h00

Imagine se você pudesse se lembrar de tudo o que quisesse. Em vez de decorar as lições da faculdade ou da aula de inglês, pudesse implantar as memórias delas no seu cérebro – e recordá-las numa fração de segundo sempre que precisasse. Se você passasse por um trauma, poderia simplesmente apagá-lo. E, quando a vida chegasse ao fim, descarregaria todas as suas experiências num imenso arquivo digital, para compartilhá-las com seus descendentes ou toda a humanidade. Pode parecer futurista demais para ser verdade. Mas já existem cientistas trabalhando nisso.

A Universidade da Califórnia conseguiu desenvolver um chip que reproduz as funções do hipocampo, área do cérebro que coordena a formação das memórias. Ratos tiveram seu hipocampo substituído pelo chip – e conseguiram usá-lo para formar novas memórias. Isso significa que deciframos os códigos que a mente usa para transformar informações em memórias, conseguimos convertê-los em linguagem de computador, criamos um chip que processa essa linguagem – e conseguimos fazê-lo funcionar conectado ao cérebro. Essas façanhas provaram que, tecnicamente, é possível fazer o upload de memórias. E também o download delas. “Quem sabe um dia a gente consiga baixar nossas experiências, para que nossos descendentes possam saber como foi a vida para cada um de nós. Não é viagem dizer que os meus bisnetos vão deixar, literalmente, suas memórias para a posteridade”, sonha o neurocientista Miguel Nicolelis, um dos maiores especialistas do mundo na interação cérebro-computador. Enquanto esse dia não chega, a ciência procura outros caminhos. Cientistas canadenses descobriram que, dando pequenos choques em determinadas partes do cérebro, é possível fazer uma pessoa se lembrar em detalhes de cenas vividas 30 anos antes. E os EUA acabam de aprovar um tratamento à base de campos magnéticos, que alteram o fluxo de eletricidade no cérebro e são usados para tratar depressão profunda. “No futuro, esperamos usar esse método para melhorar a memória de pacientes saudáveis. Já está provado que funciona” afirma a neurocientista Gayatri Devi, da Universidade de Nova York, que já está testando a terapia. E o oposto também está comprovado: um estudo publicado nos EUA mostrou que, manipulando certas proteínas do cérebro, é possível apagar de vez certas lembranças da mente.

Mas a novidade mais esperada, e mais próxima, é a pílula da supermemória. Ela deve chegar às farmácias nos próximos anos, e é baseada em versões mais fracas de remédios desenvolvidos para tratar Alzheimer. Esses medicamentos estimulam a acetilcolina, um neurotransmissor fundamental para a formação e fixação da memória. Como as drogas supostamente não têm efeitos colaterais, os laboratórios pretendem vendê-las sem receita.

Ou melhor: há, sim, um efeito colateral. A suplementação artificial da memória poderia criar uma sociedade dividida em duas castas. Quem puder (e quiser) tomar os remédios terá uma memória mais potente, e por isso levará sempre a melhor na escola, nos vestibulares e nos empregos. As pessoas normais, que não se adaptassem a esse admirável mundo novo, ficariam cada vez mais marginalizadas. Mas talvez não seja assim. As pílulas da memória podem se tornar ajudantes cerebrais tão banais, e tão aceitas pela sociedade, quanto a cafeína. E talvez nós precisemos desesperadamente delas – pois nossa memória realmente anda mal. Está vendo esta tarja vermelha aí em cima, envolvendo o título? Na primeira parte desta reportagem, várias páginas atrás, ela era de outra cor. Qual? Aposto que você não se lembra.

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Para saber mais

Onde Deixei Meus Óculos?
Martha Weinman Lear, Sextante, 2008.

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