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Microalga do Ártico faz fotossíntese no escuro (quase) total

Desvendar os segredos de como as algas sobrevivem sem luz poderia ajudar a estender as estações de crescimento das plantas cultivadas em altas latitudes.

Por Bela Lobato
24 nov 2024, 10h00

Você deve ter aprendido na escola que a fotossíntese é o processo de conversão de energia luminosa em energia química, essencial para a vida dos vegetais e, consequentemente, para a de todos os animais também. Se não receberem luz o suficiente, as plantas geralmente ficam amareladas e morrem. Isso não deixa de ser verdade, mas uma descoberta nas profundezas do Oceano Ártico muda o critério de quanta luz é o necessária.

Isso porque foram encontradas microalgas que conseguem realizar a fotossíntese mesmo a 50 metros de profundidade na escuridão quase total. Esses organismos vivem no paralelo 88º N, cinco graus mais ao norte do que a faixa de terra mais setentrional do planeta, na Groenlândia. 

Devido ao ângulo de inclinação da Terra em relação ao Sol, essa região passa metade do ano em completa escuridão. Era o final de março e a longa noite polar tinha acabado de terminar. É como se a região ficasse vários dias vivendo o que normalmente ocorre em um dia: ao longo de semanas, o sol mal aparece no horizonte, mas o céu começa a clarear, como acontece antes do amanhecer.

O mar ainda estava coberto de neve e gelo, que obstruem a passagem de luz. A 50 metros de profundidade, as algas tinham cerca de 100 mil vezes menos luz do que um dia ensolarado normal no Brasil. Mesmo assim, lá estavam elas crescendo por meio da fotossíntese.

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Os experimentos ocorreram durante a expedição MOSAiC, em que o navio quebra-gelo alemão Polarstern passou um ano preso no gelo do Ártico para que cientistas de várias disciplinas pudessem coletar dados. Vários instrumentos de medição precisaram ser especialmente confeccionados para as medições precisas.

Os resultados do estudo foram publicados na revista Nature Communications. “É muito impressionante ver a eficiência com que as algas podem utilizar quantidades tão baixas de luz. Isso mostra mais uma vez como os organismos estão bem adaptados ao seu ambiente”, diz a líder da expedição, Clara Hoppe, em comunicado.

Dirk Notz, um dos responsáveis pelas medições, acrescenta que as variações na espessura do gelo e na neve tornaram particularmente difícil calcular as irregularidades no campo de luz na água que havia abaixo. “Mas, no final, pudemos ter certeza: simplesmente não havia mais luz.”

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Os resultados do estudo são importantes para todo o planeta. “Embora nossos resultados sejam específicos para o Oceano Ártico, eles mostram do que a fotossíntese é capaz. Se ela é tão eficiente sob as condições desafiadoras do Ártico, podemos supor que os organismos em outras regiões dos oceanos também se adaptaram tão bem”, diz Hoppe.

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