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Muito do que sabemos sobre Urano pode estar errado. Entenda por quê.

Quando a Nasa visitou Urano pela única vez, em 1986, o planeta tinha acabado de passar por um evento raro que pode ter distorcido os dados coletados.

Por Eduardo Lima
21 nov 2024, 18h00

A maior parte do nosso conhecimento de Urano – o terceiro maior planeta do sistema solar e o sétimo mais distante do Sol – vem de uma única viagem que uma espaçonave da Nasa fez em 1986, há quase 40 anos.

A Voyager 2 foi lançada em 1977 e continua em atividade até hoje – agora fora da heliosfera, a área de influência do Sol. Em 1986, a sonda da Nasa chegou a uma distância de 81.500 km das nuvens superiores do planeta, e descobriu dez satélites naturais até então desconhecidos. No total, o sistema uraniano tem 28 luas.

A visita da Voyager 2 pegou Urano de surpresa – a casa não estava arrumada. Na verdade, o planeta estava passando por um momento extraordinário e se encontrava num estado anômalo. Por isso, a maioria dos dados coletados sobre Urano talvez não seja uma representação fiel de como o planeta é no dia a dia.

Um estudo publicado na Nature Astronomy sugere que, quando a Voyager 2 se aproximou de Urano em 1986, o planeta estava no meio de um evento raro causado por ventos solares intensos, que pode ter influenciado as conclusões dos cientistas sobre o sistema uraniano. Ou seja: talvez a gente saiba menos sobre Urano do que imaginávamos.

Campo magnético diferentão? Ou só é impressão?

A visita da Voyager 2 foi a única que Urano já recebeu. É um rolê longo: a espaçonave demorou nove anos para cruzar 2,9 bilhões de km. Quando chegou lá perto, o satélite coletou todos os dados que precisava sobre as luas e os anéis do planeta em menos de seis horas. O restante das nossas informações sobre Urano vem da observação de telescópios, como o Hubble.

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Os resultados da viagem de 1986 mostravam que Urano tinha uma magnetosfera – região sob influência do campo magnético que protege os planetas – única e peculiar. Ela parecia ser fortemente assimétrica, com cinturões de radiação intensos e uma falta de plasma (gás com partículas energéticas ionizadas) que diferenciava Urano do resto do Sistema Solar.

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Agora, os autores do estudo afirmaram que o satélite da Nasa passou por Urano logo depois de ventos solares – que nada mais são que fluxos contínuos de partículas carregadas ejetadas do Sol – tão intensos que comprimiram a magnetosfera do planeta. Por isso, ele ficou sem plasma e com os cinturões de radiação cheios de elétrons energizados.

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Um conceito artístico mostrando como a magnetosfera de Urano se comportava antes e durante o sobrevoo da Voyager 2 da NASA, quando experimentou um clima solar incomum.
Representação artística de como a magnetosfera de Urano se comporta comumente (à esquerda), e como ela se encontrava num estado anômalo quando a Voyager 2 passou por lá (à direita). (NASA/JPL-Caltech/Reprodução)

Se a Voyager 2 tivesse passado por Urano uma semana antes, a história provavelmente seria outra, com uma magnetosfera mais parecida com a dos outros gigantes gasosos do Sistema Solar. O estado anômalo do planeta no momento da visita só acontece durante 4% do tempo, segundo estimativas dos pesquisadores.

Lá na década de 1980, a aparente falta de plasma de Urano levou os cientistas a concluir que as luas do planeta provavelmente eram inertes, sem qualquer tipo de atividade geológica. Agora, novas investigações são necessárias para checar essa informação, já que ela foi possivelmente distorcida pelo evento raro que tinha acabado de acontecer. 

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Em 2022, a Nasa decidiu que uma prioridade para a próxima década seria realizar uma nova missão para Urano, provavelmente em 2032, para passar mais tempo perto do planeta. Agora é esperar para ver o gigante gasoso mais de perto – e mais normal.

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