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O derretimento do gelo ártico pode afetar o padrão das correntes marítimas

Estudo revela que situações parecidas foram observadas no Último Interglacial e os resultados foram feios, como mudanças de temperaturas e do nível do mar.

Por Manuela Mourão
2 nov 2024, 12h00

De acordo com um novo estudo, o aquecimento global, que vem aquecendo rapidamente em regiões polares, pode ser responsável por alterar completamente os padrões de circulação oceânica. Isso porque, na história da Terra, uma história parecida já foi registrada, dizem os pesquisadores. 

Perdendo apenas para sua irmã do extremo oposto do globo (a Antártida), o Ártico é um dos lugares mais frios do mundo. O Polo Norte possui cerca de 21 milhões de quilômetros quadrados e destes, quase 65% é composto pelo Oceano Glacial Ártico, uma bacia circular, que banha a Noruega, Islândia, Rússia, Groenlândia, Canadá e Estados Unidos.  

O novo estudo, publicado na revista Nature, descobriu que, em um passado distante, o derretimento do gelo dessa área, aumentou o fluxo de água doce nos Mares Nórdicos e teve consequências na circulação oceânica, que resultaram em mudanças drásticas de temperaturas em toda a Europa setentrional, com climas bem mais baixos do que o esperado. Esses mares desempenham um papel crucial no transporte de calor oceânico e influenciam padrões climáticos além de suas fronteiras.

Os cientistas responsáveis pela pesquisa, explicam que o clima do noroeste da Europa é dependente da Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC), uma corrente de água que vem desacelerando. Essa diminuição de velocidade pode ser uma decorrência do crescente calor e das novas águas doces. 

“A alteração da AMOC está ligada a mudanças no transporte oceânico de calor e sal, com anomalias árticas afetando o equilíbrio entre os fluxos de água quente e fria”, escreve Mohamed Ezat, da iC3 Polar Research Hub e autor principal do estudo. “Isto nos lembra que o clima do planeta é um equilíbrio delicado, facilmente perturbado por mudanças na temperatura e na cobertura de gelo”, completa.

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A previsão do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, é que exista um aumento de temperatura de 7° a 8° no Ártico nos próximos 30 a 40 anos, dependendo do cenário de emissões de carbono na atmosfera. Alguns outros estudos sugerem que o Ártico pode esperar verões sem nenhum gelo já entre 2030 e 2050. 

E as consequências seriam incontáveis. Além das mudanças de correntes e temperaturas, o nível dos mares e ecossistemas inteiros entraram na mistura. Para o Jornal da USP, o  professor Paulo Artaxo, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP, diz que  “os ecossistemas podem entrar em colapso. As geleiras são habitats importantes para várias espécies. O derretimento pode ameaçar a biodiversidade, afetando cadeias alimentares e ecossistemas inteiros.” 

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No início deste mês, mais de 40 cientistas climáticos assinaram uma carta aberta, alertando os riscos que as mudanças climáticas apresentavam para a circulação das correntes marítimas no Atlântico, que, de acordo com eles, teriam “impactos devastadores e irreversíveis”.  

A pesquisa da equipe de Ezat analisou o aquecimento climático e o aumento do derretimento do gelo marinho ártico durante o Último Interglacial (há mais de 100 mil anos). 

Esse intervalo de tempo entre as eras glaciais – avanço das geleiras – em que as temperaturas eram mais quentes, aliás mais quentes até mesmo do que hoje em dia, mostraram para o time que existia uma ligação imediata entre as mudanças nas temperaturas da superfície do mar regional e na circulação oceânica. 

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O que acontecia era que, à medida que o gelo marinho derretia, alterava-se a salinidade e a densidade da água, perturbando os fluxos de corrente e a distribuição de calor, similarmente do que vem sendo registrado nos dias de hoje. 

“Compreender a dinâmica desse período quente é vital”, destaca Ezat. À medida que o aquecimento atual do Ártico continua,mais mudanças nas correntes oceânicas e nos padrões climáticos podem ser esperadas, por isso, vale conhecer a história do Último Interglacial. 

A equipe analisou núcleos de sedimentos dos Mares Nórdicos, utilizando vários traçadores geoquímicos para reconstruir as condições oceânicas passadas, incluindo temperaturas da superfície do mar, níveis de salinidade e processos de formação de água profunda.

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Ezat enfatiza que muitas perguntas permanecem, especialmente sobre o período de resfriamento no Mar da Noruega. Ele espera que o estudo sirva como um parâmetro para modeladores climáticos avaliarem melhor os impactos das mudanças no gelo tanto no clima regional quanto no global.

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