O primeiro embrião artificial da história saiu do papel
Usando apenas células-tronco, pesquisadores criaram, em laboratório, um modelo de embrião de rato que simula os primeiros dias de formação de um mamífero.
Dois tipos de células-tronco e uma espécie de molde apelidado de scaffold (em português, “andaime”). Foi assim que um grupo de cientistas da Universidade de Cambridge criou, em laboratório, um embrião de camundongo sem usar óvulos, espermatozóides ou sequer um útero. Conforme ele crescia, começou a assumir a forma do mamífero, com as estruturas que dão origem a cada órgão todas nos lugares corretos.
“Tanto as células embrionárias como as células extra-embrionárias começaram a ‘falar’ umas com as outras e se organizaram em uma estrutura que se parece com um embrião e se comporta como um”, explicou a líder da pesquisa, Magdalena Zernicka-Goetz, em anúncio à imprensa. “Suas regiões anatômicas estão corretas, se desenvolvem nos lugares certos e no momento certo.” Um artigo científico relatando o feito foi publicado na Science.
Em uma situação de reprodução normal, um óvulo fertilizado por um espermatozóide começa a se dividir múltiplas vezes e gera uma pequena bola flutuante de células-tronco. Elas são como coringas: podem se tornar quase qualquer coisa, e irão assumir diferentes formas e funções conforme o novo organismo se desenvolver. Uma parte delas, as chamadas células-tronco embrionárias (ESCs), se juntará em um canto para formar o blastocisto, primeiro estágio do futuro bebê – que contém cerca de 200 células. Outra porção de células, chamadas trofoblastos extra-embrionários (TSCs), fica em volta para dar origem à placenta.
Tentativas anteriores de simular esses primeiros dias de divisão celular em laboratório deram errado porque usaram apenas ESCs, deixando de lado a “embalagem” de TSCs. Quando foram usados os dois tipos de células e o scaffold mencionado no primeiro parágrafo, elas começaram a trocar informações e a guiar o crescimento umas das outras – coordenação que se provou essencial para simular o que acontece na natureza.
“Nós sabíamos que a interação entre tipos diferentes de células-tronco era importante para o desenvolvimento, mas o que nosso novo trabalho ilustra é que a parceria é real – essas células realmente guiam umas às outras.”, afirmou Zernicka-Goetz.
Apesar do sucesso, esse embrião experimental não poderia se desenvolver mais e se tornar um feto saudável. Faltam na receita outros tipos de células tronco essenciais para a nutrição do feto, e a placenta não se desenvolveria da forma correta. Uma versão humana da criação de laboratório, porém, poderia ajudar pesquisadores a entender melhor nossos primeiros estágios de formação. Atualmente, os poucos embriões humanos disponíveis para pesquisa médica são desenvolvidos a partir de óvulos sobressalentes doados por clínicas de fertilização artificial.