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O profeta do passado

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 30 set 1998, 22h00

Bernardo Esteves

Ele morreu sozinho, isolado do mundo e ridicularizado pelos colegas. Wegener estava tão à frente de seu tempo que sua maior descoberta, a deriva dos continentes, só foi reconhecida trinta anos depois da sua morte. E mudou para sempre a Geologia.

O que você diria se, em 1915, alguém lhe afirmasse que os continentes flutuam como jangadas? E que, um dia, todos estiveram unidos? Alfred Wegener pagou o preço por estar muito à frente do seu tempo. Morreu sozinho no meio do gelo, trinta anos antes de sua teoria ser confirmada.

Doutor em Astronomia aos 25 anos, Wegener logo tirou os olhos das estrelas e começou a estudar Meteorologia. Em 1906, junto com o irmão Kurt, bateu o recorde de permanência em um balão: 52 horas de vôo. Nesse ano participou de sua primeira expedição à Groenlândia, para estudar a atmosfera polar.

Em 1912, voltou à ilha gelada e realizou a maior travessia da calota polar feita até então. Virou especialista em Glaciologia. De volta à Alemanha, tornou-se diretor do Departamento de Pesquisas Meteorológicas de Hamburgo. Aos 30 anos, seus estudos sobre a termodinâmica da atmosfera o tornaram famoso. Foi o primeiro cientista a descrever a formação das gotas de chuva.

Ainda em 1912, apresentou pela primeira vez sua revolucionária Teoria da Deriva Geológica dos Continentes. Em 1915, publicou A Origem dos Continentes e dos Oceanos, livro que consolidava seu trabalho e fulminava a ciência da época, o que lhe custou caro. À exceção de alguns adeptos, Wegener recebeu ataques pessoais e hostilidade generalizada. Nenhuma universidade alemã quis aceitá-lo. Foi forçado a mudar-se para a obscura Universidade de Graz, na Áustria, em 1924.

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Em 1930, voltou à Groenlândia, para estudar Meteorologia. Em novembro, dias depois do seu 50o aniversário, deixou um abrigo no interior da ilha, rumo a um posto, na costa, e nunca mais foi visto com vida. Provavelmente morreu de ataque cardíaco. Seu corpo foi encontrado, meses depois, e enterrado. O mausoléu erigido em sua memória foi engolido pelo gelo, alguns anos depois.

A partir de 1960, o estudo do campo magnético da Terra constatou que o fundo do mar está se expandindo. Só então os cientistas convenceram-se de que Wegener estava certo. Com a descoberta do movimento das placas tectônicas – os blocos em que a crosta terrestre se divide –, reconheceu-se que os continentes de fato flutuam. Esse movimento explica a formação de cadeias de montanhas, os terremotos e as erupções vulcânicas. Exatamente como Wegener dissera. Apesar de ridicularizado, o mestre fez um gol. De placa, literalmente.

Ficha técnica

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Nome

Alfred Lothar Wegener

Nascimento

1º de novembro de 1880, em Berlim, Alemanha

Morte

Novembro de 1930, na Groenlândia

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Formação

Universidades de Heidelberg, Innsbruck e Berlim

Ocupação

Climatologista e geofísico

Destaque

Propôs a Teoria da Deriva Geológica dos Continentes

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Eureka! Eureka! Eureka!

Quebra-cabeça geológico

No início de 1910, Wegener constatou que a costa leste da América do Sul e o oeste da África se encaixavam com precisão. Intrigado, resolveu pesquisar. Outras evidências se juntaram: o relevo dos dois continentes se completava, como se fossem “colados”. Além disso, fósseis dos mesmos animais e épocas haviam sido encontrados em ambos os lados do Atlântico. Provavelmente teria havido uma ponte terrestre ligando-os, no passado.

Wegener juntou as peças e montou um quebra-cabeça geológico. Segundo a Teoria da Deriva Continental, no início todos os continentes estavam reunidos num só, a Pangéia. Há 200 milhões de anos, a Pangéia começou a rachar e se dividiu em vários blocos de terra, que foram se movendo até chegar à posição dos continentes atuais.

Mas qual a força física desse movimento? Wegener formulou algumas hipóteses, mas nenhuma delas se mostrou convincente. Ele foi crucificado pela crítica. Antes de morrer, disse que a solução para o problema demoraria, pois “o Newton da Deriva Continental ainda não apareceu”. Trinta anos depois, a descoberta do movimento das placas tectônicas confirmaria tudo.

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“A América do Sul não se encaixa na África, como se um dia tivessem estado juntas? Preciso levar adiante essa idéia.”

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