Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Dia das Crianças: Revista em casa por 9,90

O que é a “síndrome do Nobel”?

Alguns cientistas, depois de laureados, passaram a defender ideias pseudocientíficas.

Por Bruno Carbinatto
10 out 2025, 12h00

O americano Linus Pauling levou a medalha de Química em 1954 por desvendar como as ligações químicas ocorrem entre átomos; em 1962, ele também ganhou o Nobel da Paz por seu ativismo contra testes nucleares. Pouco depois, porém, Pauling fundou a chamada “medicina ortomolecular”, uma área que hoje sabemos que tem inúmeros furos.

Em linhas gerais, essa teoria defende que altas doses de vitaminas podem tratar gripes, esquizofrenia e até câncer. Nenhuma dessas alegações é comprovada: diversos estudos controlados já mostraram que superdoses não fazem diferença para o corpo. O excesso de vitaminas é liberado no xixi – e, em alguns casos, pode ser tóxico.

Como um químico tão respeitado passou a defender uma ideia equivocada? Por incrível que pareça, Pauling não é o único: é tão comum que vencedores do prêmio se tornem divulgadores de teorias pseudocientíficas que esse fenômeno ganhou até um apelido, a “síndrome
do Nobel”.

Kary Mullis, por exemplo, levou a categoria de Química em 1993 por desenvolver o PCR, uma técnica de replicação de DNA. Depois disso, o cientista tornou-se um dos maiores negacionistas do HIV, pregando que o vírus não era o real responsável pela aids – uma ideia absurda. (Em sua autobiografia, o cientista também relata ter se encontrado com um guaxinim falante.)

Quem descobriu o HIV foi o virologista francês Luc Montagnier, Nobel de Medicina de 2008. Ironicamente, ele também foi acometido pela síndrome: em artigos publicados num periódico que ele mesmo fundou, Montagnier pregava que vírus e bactérias emitem ondas eletromagnéticas, e que seriam essas ondas as responsáveis por causar doenças, uma ideia nunca comprovada. Ele também era simpático à homeopatia (uma prática pseudocientífica) e acreditava que o autismo podia ser curado com antibióticos. Pura balela.

Continua após a publicidade

William Shockley, Nobel de Física em 1956 por sua pesquisa com transistores, era racista e eugenista, bem como o já citado James Watson. Brian Josephson, vencedor da categoria Física em 1973, acredita em telepatia.

A síndrome do Nobel, claro, é um termo informal para descrever esse fenômeno curioso. Não é uma doença de verdade nem representa a maior parte dos vencedores. Além disso, não há dados que mostram que a propensão a acreditar em pseudociências seja mais comum entre vencedores do prêmio do que entre cientistas em geral.

Uma possível explicação é a suposta autoridade que o prêmio confere. É como se a medalha proporcionasse uma chancela para que os vencedores se sintam especialistas em tudo (e não só na área que dominam). Em 2001, o geneticista Paul Nurse, ganhador do prêmio de Medicina, alertou futuros ganhadores sobre o perigo de “expressar opiniões sobre a maioria dos assuntos com grande confiança”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA PREMIUM

Digital Completo

Enquanto você lê isso, o mundo muda — e quem tem Superinteressante Digital sai na frente.
Tenha acesso imediato a ciência, tecnologia, comportamento e curiosidades que vão turbinar sua mente e te deixar sempre atualizado
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 5,99/mês
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Superinteressante todo mês na sua casa, além de todos os benefícios do plano Digital Completo
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$5,99/mês.