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O saltimbanco da Física

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 30 set 1998, 22h00

Roberto Barros de Carvalho

Tudo em Feynman era original e surpreendente. Um dos maiores físicos do século, sabia arrombar cofres, violar segredos militares e tocar bongô. Ele encarava a Ciência como diversão – e vice-versa.

O físico Richard Phillips Feynman – Dick, como ele preferia – tinha pouco mais de 20 anos quando foi convidado a entrar no time de feras encarregado de produzir a bomba atômica. O ano era 1942, e Feynman já era doutor pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, onde o Projeto Manhattan, de construção da bomba, começou a nascer. Em pouco tempo, viria a ser um dos principais líderes teóricos da empreitada. Foi ele quem concebeu a equação que prevê a quantidade de energia liberada por uma explosão nuclear.

Mas como um dos chefes do projeto, em Los Alamos, no deserto do Nevada, Feynman aprontou muito mais. Sua diversão favorita, por exemplo, era quebrar os códigos secretos dos dos militares, deixando recadinhos espirituosos que enlouqueciam o pessoal do Pentágono.

O espírito iconoclasta foi uma de suas características mais marcantes desde criança. Outra era o pragmatismo. Na sua casa de filho de imigrantes judeus em Nova York, improvisou um laboratório onde construía e consertava rádios. E montou um motor que fazia o berço da irmã recém-nascida balançar sozinho por horas a fio. Na escola, assombrou a professora de Matemática com um manual de álgebra e outro de “aritmética para o homem prático”, escritos após a leitura de várias enciclopédias. O pai, um ateu russo, foi quem despertou nele o interesse pela Ciência, e a mãe, uma bem-humorada judia polonesa, sempre o apoiou nas traquinagens de geninho.

Feynman não se intimidava com ninguém e se manteve sereno até mesmo diante de circunstâncias trágicas como a morte de sua primeira mulher, Arlene – quando se casaram, ela já estava condenada pela tuberculose. Xereta até não poder mais, abria cofres com tal destreza que certa vez, durante o ano que passou no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro, foi chamado às pressas para arrombar o do Consulado Americano. Era um exímio tocador de bongô. Um colega da Universidade de Cornell, onde trabalhou depois da guerra, conta que era comum ouvir de madrugada “aquele som estranho sobre o silêncio do campus”.

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Em Cornell, arrependido do trabalho para os militares, Feynman voltou às raízes de físico teórico. Mas sem perder o espírito prático. Em sua incansável busca de uma teoria que expressasse adequadamente as interações da radiação com a matéria – a Eletrodinâmica Quântica, pela qual ganharia o Nobel de Física em 1965, juntamente com Julian Schwinger e Shin-Ichiro Tomonaga –, sempre rejeitou um tratamento puramente matemático do problema, insistindo na necessidade de intuição física direta para resolvê-lo. Em 1950, transferiu-se para o Instituto de Tecnologia da Califórnia, o Caltech, mas trabalhou lá apenas duas semanas antes de morrer, aos 69 anos, vítima de câncer de estômago.

Ficha técnica

Nome

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Richard Phillips Feynman

Nascimento

11 de maio de 1918, em Nova York, EUA

Morte

15 de fevereiro de 1988, em Los Angeles, EUA

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Formação

Física pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)

Ocupação

Físico teórico

Destaque

Foi um dos autores da Teoria da Eletrodinâmica Quântica, que descreveu as interações da radiação com a matéria

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Eureka! Eureka! Eureka!

Uma maneira original de raciocinar

O que diferenciava Feynman de seus colegas co-autores da Teoria da Eletrodinâmica Quântica era a intuição. Ele fugia da visão ortodoxa da Física, segundo a qual o comportamento de um elétron, por exemplo, deve obedecer a regras rígidas. Para ele, o elétron faz o que bem entende, podendo viajar no espaço de todas as maneiras possíveis. “Pode até voltar no tempo”, admitia.

Também tinha horror a cálculos complicados. Ele imaginava os processos em cenas, e essas imagens lhe revelavam soluções diretas, com poucos cálculos. Ao estudar o comportamento de um elétron, por exemplo, desenhava diagramas. Criou, assim, o diagrama de Feynman, que se tornou clássico.

Para ele, a conduta do elétron era determinada pelo exame da “totalidade de históricos”, o conjunto de seus deslocamentos. Uma teoria que funciona para descrever a trajetória de quase tudo, desde bolas até animais. Foi essa sua grande idéia, fruto de uma intuição iluminada, que muitos consideravam um desvario. Quem vivia resolvendo equações ficava aturdido com seus métodos. A mente deles era analítica; a de Feynman era pictográfica.

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“Eu não preciso saber uma resposta. Eu não sinto medo por não saber e por estar perdido num universo misterioso, sem nenhum propósito, que é como realmente estamos, até onde eu saiba. Isso não me assusta.”

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