O segredo dos faquires
O que há de verdade e mentira por trás das habilidades espantosas dos homens-santos indianos.
Tânia Nogueira
Qual o domínio que nossa mente tem sobre as funções do corpo? Fora meia dúzia de ações que são comandadas voluntariamente, como andar ou comer, a maioria das pessoas não tem controle nenhum sobre o funcionamento de seu corpo. Mas, reza a lenda, há até quem consiga induzir um estado cataléptico. São as fantásticas histórias dos faquires indianos, homens supostamente sagrados, iniciados na ordem sufi do islamismo, que fizeram voto de pobreza e andam de aldeia em aldeia demonstrando seus poderes absurdos e recolhendo alguns trocados.
Há documentos históricos de casos muito intrigantes. Em 1835, o marajá de Lahore ouviu falar de um homem que tinha sido enterrado vivo por quatro meses e sobrevivera. Mandou chamar o faquir e o desafiou a repetir o feito nos jardins de seu palácio. Depois de uns dias com uma alimentação especial e exercícios de limpeza do organismo, o asceta teria começado a meditar. Em poucos segundos, seu pulso se tornou indetectável. Foi, então, enterrado. Em volta de sua sepultura, se ergueu um muro, vigiado por guardas. Depois de 45 dias, o faquir foi desenterrado. Em menos de uma hora, ele estava em pé. Pode ter sido truque, mas o faquir não foi pego em nenhum deslize.
Parece haver uma relação entre a meditação e o controle de funções que normalmente são automáticas no corpo humano. Daí talvez a capacidade de dominar a dor, para se deitar em uma cama de pregos, andar sobre o fogo ou se pendurar por ganchos. Mas há muito de folclore em torno dos supostos poderes desses homens-santos. Muitos dos que se dizem faquires são apenas ilusionistas. Há até um caçador de faquires que os segue pela Índia, revelando o que há por trás de cada truque. Basava Premanand diz que, em 50 anos de andanças pelo país, nunca viu um milagre real.