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Ornitorrincos perderam 22% de seu habitat nos últimos 30 anos

Relatório associa mudanças climáticas e construção de barragens ao declínio da espécie – e pede que o mamífero bicudo seja classificado como “vulnerável”.

Por Carolina Fioratti
26 nov 2020, 16h46

A Austrália, devido a seu isolamento geográfico, se tornou um berço de espécies excêntricas. Uma delas é o ornitorrinco – famoso por seu sexto sentido eletromagnético, as glândulas de veneno, o leite que sai pelos poros e o seu jeitinho peculiar de dar à luz: junto das equidnas, o bicudo pertence ao grupo dos monotremados, os únicos mamíferos que põem ovos. 

Mas este ícone australiano está sob ameaça. De acordo com um relatório feito pela Universidade de Nova Gales do Sul em parceira com outras instituições de preservação ambiental, nas últimas três décadas, os ornitorrincos perderam 22% de seu habitat – o equivalente ao território do Paraná. 

Originalmente, os ornitorrincos podiam ser encontrados nos rios e lagos da Ilha da Tasmânia e de três estados australianos: Queensland, Victoria e Nova Gales do Sul. Isso equivale a todo o litoral oeste do pequeno continente australiano – ou seria uma enorme ilha? 

O aquecimento global e a intervenção humana indevida nas regiões de mata nativa são os responsáveis por reduzir esse território. Para começar, as secas estão mais severas e frequentes – e as chuvas, mais escassas. A isso se somam novas barragens, que alteram o curso dos rios e inundam áreas verdes. Por fim, há a poluição das águas e o problema das armadilhas para peixes, que são instaladas em corrredeiras e acabam capturando ornitorrincos acidentalmente. 

O relatório analisou os estados individualmente. A maior perda ocorreu em Nova Gales do Sul, onde fica Sidney, a maior cidade do país: 32%. Logo depois vêm Queensland e Victoria, em que o habitat dos ornitorrincos diminuiu, respectivamente, 27% e 7%. Os resultados são ainda mais alarmantes ao redor de áreas urbanas. Melbourne, em Victoria, perdeu 65% do território originalmente ocupado pelos bichinhos. 

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O relatório pede uma revisão no status do ornitorrinco na base de dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Atualmente, eles são classficados como “quase ameaçados”, mas os pesquisadores defendem que a espécie passe a ser considerada “vulnerável”.

Richard Kingsford, autor principal do estudo, disse em comunicado: “Temos responsabilidade nacional e internacional de cuidar desse animal único, e os sinais não são bons. A população de ornitorrincos está diminuindo e precisamos combater as ameaças à espécie antes que seja tarde demais”. 

Os resultados vão de encontro a outra pesquisa publicada no periódico Biological Conservation no início de 2020. Nela, pesquisadores da Universidade de Nova Gales do Sul explicam que, caso permaneça o cenário atual de mudanças climáticas e outras ameaças, a população de ornitorrincos deverá cair entre 47% e 66% dentro dos próximos 50 anos. 

O ornitorrinco é uma figurinha rara da biologia: é uma espécie de elo perdido entre répteis e mamíferos, com características anatômicas e fisiológicas dos dois grupos. Preservá-lo em cativeiro, uma solução viável para algumas espécies, não é uma opção no caso deste pequeno australiano. O ornitorrinco cria seus filhotes em condições difíceis de serem reproduzidas nos zoológicos. Por conta disso, a única saída é cuidar do ambiente em que eles sempre viveram. 

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