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Os números “com vírgula” eram usados 150 anos antes do que se pensava

Tabelas usadas por um comerciante veneziano em 1440 já empregavam um marcador para separar casas decimais.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 22 fev 2024, 18h09 - Publicado em 22 fev 2024, 18h05

Até hoje, o consenso entre historiadores era que o primeiro a usar um sinal gráfico para separar as casas decimais de um número havia sido o matemático Christopher Clavius em 1593, enquanto estudava tabelas com dados astronômicos.

Agora, uma pesquisa realizada pelo historiador da matemática Glen Van Brummelen, da Universidade Trinity Western, no Canadá, revelou que esse recurso já estava em uso pelo menos 150 antes de Clavius. 

Calhou que o manuscrito Tabulae, do italiano Giovanni Bianchini, empregava o uso de marcadores decimais em 1440, um século e meio antes de Clavius. O estudo foi publicado no periódico especializado Historia Mathematica

Vale lembrar que, no Brasil, usamos vírgulas para separar decimais, enquanto outros países preferem usar um ponto. O termo genérico “marcador decimal” engloba essas e outras possibilidades. 

Brummelen percebeu que, em uma das tabelas do manuscrito, Bianchini incluía pontos entre alguns números. Por exemplo, ele utilizou 10.4 (ou 10,4 aqui no Brasil) para depois multiplicar o valor por 8, da mesma forma que fazemos hoje.

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Bianchini era um comerciante de Veneza, que anos depois chegou a ser administrador dos investimentos de uma poderosa família veneziana.

Segundo Brummelen, graças ao seu posto como comerciante, Bianchini realizava muitas viagens a negócios. Nessas viagens, ele possivelmente visitou países do mundo islâmico, onde as pesquisas em matemática estavam em um estágio muito mais avançado que no Ocidente. 

Esse contato com as pesquisas de ponta realizadas pelos acadêmicos islâmicos pode ter influenciado Bianchini no seu uso pioneiro de marcadores decimais para representar números não inteiros, e é mais uma demonstração do papel importante que Veneza teve como ponto de troca cultural entre a Europa e a Ásia no final da Idade Média. 

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