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Papagaios gostam de brincar em tablets e de ligar para outros pássaros

Papagaios são aves bem inteligentes. Para estudar seu comportamento, um grupo de pesquisadores lhes deu um celular – e elas pareceram curtir o aparelho.

Por Leo Caparroz
30 mar 2024, 14h00

Telas já são parte da nossa vida. Seja para trabalho ou lazer, é difícil imaginar algumas de nossas atividades cotidianas sem uma tela. Um grupo de pesquisadores acredita que, além dos humanos, os papagaios também podem se beneficiar de uma touchscreen – acima disso, eles acreditam que a tecnologia pode nos ajudar a compreender melhor essas aves.

Tudo começou em 2023, quando um grupo de cientistas liderados por Rébecca Kleinberger da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, decidiu estudar o comportamento dos papagaios e suas dinâmicas sociais. Só que tinha um pequeno detalhe: a comunicação entre as aves era feita por chamadas de vídeo.

Os pesquisadores investigaram o que acontecia quando um grupo de pássaros domesticados aprendeu a ligar uns para os outros usando smartphones.

Primeiro, ensinaram o grupo, formado por de diversas espécies e seus cuidadores voluntários, como fazer videochamadas entre si pelo Facebook Messenger. Os 18 papagaios do estudo deveriam tocar uma campainha para sinalizar que queriam fazer uma ligação. Ao badalar da sineta, os humanos davam um tablet com fotos de outras aves para que os papagaios escolhessem qual amigo chamar.

Os pássaros tinham liberdade para escolher fazer as chamadas quando e se quisessem. Os cientistas ressaltam, tirando a parte de ensinar a usar a tela touch, não houve nenhuma guloseima envolvida – os pássaros não estavam condicionados e uma ação.

Usando seus bicos e línguas para tocar na tela, cada ave poderia fazer até duas ligações, cada uma com cinco minutos ou menos. Ao menor sinal de agressão ou medo dos pássaros, os cuidadores deveriam encerrar a chamada – três das 18 aves não completaram o estudo, talvez pela ansiedade ao falar ao telefone.

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Então, eles observaram como os pássaros usaram essa habilidade recém-descoberta durante um período de três meses. Se pudessem escolher, os papagaios chamariam uns aos outros?

A resposta foi “sim”. Segundo os pesquisadores, começaram a aparecer algumas dinâmicas sociais fortes. Os papagaios iniciavam as chamadas livremente e pareciam entender que era um animal de verdade do outro lado da ligação. No geral, os cuidadores disseram que as experiências eram positivas, com as aves aprendendo habilidades novas e até formando vínculos com outras colegas.

De acordo com Kleinberger, os tipos de vocalizações que os pássaros usavam era um reflexo do canto responsorial que fazem na natureza – uma dinâmica de chamada e resposta; “olá, tudo bem?”, “tudo bem, e com você?” em linguagem de papagaio.

Embora, em grande parte, os pássaros parecessem gostar da atividade em si, os participantes humanos desempenharam um papel importante nisso. Alguns papagaios gostaram da atenção extra que recebiam de seus humanos no processo, enquanto outros formaram ligações também com os humanos do outro lado da tela.

A equipe de pesquisa se concentrou nos papagaios por alguns motivos. A inteligência deles é um ponto fora da curva na escala de inteligência animal – certas espécies demonstraram capacidades cognitivas iguais às de uma criança do ensino fundamental.

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Sua visão também permite que eles entendam os movimentos em uma tela. Além disso, são vocalistas perspicazes e capacitados, com muitos de seus cantos compreensíveis para a ciência – pássaros selvagens usam seu poder de imitação para encontrar e se comunicar com companheiros de bando; enquanto os domesticados repetem a saudação de um parte ou cantam o hino do Corinthians.

“Tio, tem joguinho no celular?”

As pesquisas de Kleinberger e companhia fizeram observações interessantes. Mas a equipe ficou com uma pulga atrás da orelha: se os papagaios vão usar telas sensíveis ao toque, talvez elas devessem ser adaptadas para eles.

Esse foi o próximo passo. Em seu novo estudo, a equipe investigou a ergonomia das telas touchscreen e como melhorar a experiência para os papagaios. 

Para isso, usaram um simples joguinho de estourar balões para coletar dados de um grupo de 20 pássaros de estimação e suas telas sensíveis ao toque. 

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Os papagaios participantes variavam de espécies pequenas, como um periquito, até uma arara-azul, a maior espécie da família dos psitacídeos. Todos tinham experiência anterior no uso de telas sensíveis ao toque e concluíram o estudo em suas residências. Com a ajuda de seus cuidadores, eles aprenderam a usar um aplicativo básico em tablets. 

O objetivo era extremamente simples, os pássaros deveriam tocar em círculos multicoloridos de tamanhos diferentes em locais variados ao redor de suas telas com seus bicos e línguas.

Durante três meses, as aves tinham diariamente sessões curtas de jogatina, que não duravam mais do que 30 minutos. Dezessete completaram o estudo; três desistiram após apresentarem leves sinais de agressividade ou desinteresse durante o período de treinamento. O jogo coletou informações sobre a precisão dos pássaros, localização e frequência dos toques e elementos táteis como pressão de toque.

Os dados da equipe avaliaram até que ponto os princípios existentes de design de telas touch baseados em humanos foram traduzidos para os papagaios.

Algumas das descobertas do artigo são bastante intuitivas: como os papagaios usam principalmente a língua para interagir com os tablets, seus olhos ficam muito mais próximos da tela do que os nossos.

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Por isso, eles são consideravelmente menos precisos e se saem melhor quando os alvos são maiores. Houve também muita variabilidade no desempenho com base no tamanho das aves – aves menores tendem a ter mais problemas.

Mas a avaliação também revelou muito sobre os próprios psitacídeos. Os pesquisadores se surpreenderam com a rapidez com que algumas espécies de papagaios conseguem controlar a língua. Alguns podiam tocar no tablet até 41 vezes seguidas – um toque a cada poucos milissegundos.

As descobertas da pesquisa vão ser apresentadas em uma conferência em maio. Segundo a equipe, os humanos disseram que a experiência foi positiva para suas aves e que participar juntos do estudo foi uma ótima experiência de vínculo. Para eles, esses sistemas são feitos para humanos e animais usarem juntos, como um aprimoramento de suas interações, e não como um substituto.

Papagaio de tablet

Mas isso não quer dizer que você, que tem um papagaio de estimação, deve ir agora em uma loja de celular comprar um Motorola para a sua cacatua poder ligar para os amigos e jogar Subway Surfers. Os papagaios participantes tinham cuidadores experientes, que tiveram tempo para introduzir a tecnologia lentamente e monitorar com cuidado as reações dos seus papagaios, minimizando medo, estresse e comportamentos violentos.

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No estudo com o jogo, alguns humanos relataram que, como crianças com alto tempo de tela, tinham preocupações com seus papagaios usando o tablet excessivamente. Além disso, também mostraram temer o risco da ave danificar a tela do aparelho com seu bico.

Mesmo assim, as descobertas sugerem que as videochamadas e os jogos podem ser interações positivas, que melhorem a qualidade de vida de um papagaio de estimação.

“Não estamos dizendo que você pode fazê-los tão felizes quanto seriam na natureza”, afirma Kleinberger . “Estamos tentando servir aqueles que já estão em cativeiro.”

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