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Para baixo, e avante!

Está começando uma nova era de ouro das explorações. Desta vez, o alvo da curiosidade humana é o fundo do mar

Por Bárbara Axt
Atualizado em 5 jan 2017, 15h00 - Publicado em 28 fev 2005, 22h00

No século 16 a humanidade se lançou ao mar, em busca de continentes desconhecidos. Quando a Antártida, a América, a Oceania e toda a África já estavam no mapa-múndi, foi hora de se embrenhar nelas: e o homem se pôs a explorar florestas em busca de nascentes de rios e a subir montanhas cobertas de neve e cercadas de ar rarefeito. No século 19 chegou a vez de desvendar os segredos das regiões polares – e no começo do século 20 já tínhamos alcançado o Pólo Sul e o Pólo Norte. Não demorou muito para olharmos para cima. Empurrada pela guerra fria, a corrida espacial chegou ao seu ápice em 1969, quando o homem pôs o pé na Lua.

Aí, de lá para cá… As coisas ficaram mais devagar. É claro que houve uma ou outra grande expedição, mas as últimas três décadas não deixaram muitos momentos inesquecíveis para a história das descobertas. Pelo jeito, isso está para acabar. A humanidade está de olho num novo espaço inóspito e desconhecido: o mar e as outras águas profundas do planeta.

Nós conhecemos melhor a topografia dos planetas vizinhos que a do fundo do oceano. Nada menos do que 95% do mar jamais foi visto por olhos humanos. Mas finalmente os cientistas e exploradores têm ao seu alcance a tecnologia e os equipamentos necessários para preencher essa lacuna. Já é teoricamente possível chegar a quase todo lugar na imensidão do oceano e nos reservatórios profundos de água doce.

Parte dessa exploração vai ser feita indiretamente – com a ajuda de máquinas. Os melhores amigos dos pesquisadores de hoje são os ROVs (veículos de operação remota, na sigla em inglês). Eles fazem o trabalho pesado, encarando a pressão da água e indo até onde for preciso para recolher amostras de minerais, informações e imagens. Com eles, os pesquisadores podem ficar na superfície, apenas coordenando a missão. Bem diferente da época em que era preciso arriscar a vida para explorar as profundezas do mar, como fizeram Jacques Piccard e Don Walsh – os aventureiros que, em 1960, desceram 10 900 metros na Fossa das Marianas, o ponto mais baixo da superfície do planeta.

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Mas isso não quer dizer que não haja mais exploradores de verdade. Afinal, nem sempre é possível mandar robôs no lugar de homens. E o ímpeto humano de querer chegar aonde nenhum homem es-teve antes – aquele mesmo que nos empurra desde nossas origens – continua vivo. Conheça agora alguns dos projetos mais ousados para desvendar as últimas regiões realmente selvagens da Terra: as que estão cobertas de água.

1. A construção de atlântida

Depois de trabalhar debaixo d’água por meio século, o mergulhador canadense Phil Nuytten decidiu que visitar o fundo do mar não bastava. Ele agora quer criar uma base auto-suficiente, a mil metros de profundidade, para que as pessoas morem lá. A princípio, a ideia é fazer um protótipo para sete pessoas. Mas o sonho de Nuytten é criar verdadeiras cidades submarinas – bolhas de ar protegidas da pressão devastadora, nas quais gerações de pessoas viverão.

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O protótipo se chama Vent-Based Alpha e, segundo o pesquisador, pode ser materializado a qualquer momento com a tecnologia atual. A maior dificuldade é convencer os governos e os investidores privados de que eles poderão recuperar o dinheiro investido através de mineração submarina, montando minas de extração de ouro e de outros metais preciosos nas fontes hidrotermais localizadas no fundo do mar.

A energia da base seria gerada canalizando a água dessas fontes, que é expelida a 370 oC. Para alimentação, além da pesca, seriam cultivadas plantações hidropônicas – que se nutririam do gás carbônico resultante da respiração das pessoas e produziriam oxigênio.

2. Um céu de pedra

“O Brasil é um dos melhores locais do mundo para o mergulho em cavernas”, afirma Sergio Viegas, da Sociedade Brasileira de Espeleologia. A maior parte das grutas “mergulháveis” do Brasil fica no interior do país e muitas não foram exploradas. São ambientes de água doce, como a Gruna da Bananeira, onde, em 2004, Gilberto Menezes bateu o recorde mundial de mais longo mergulho em caverna, percorrendo 6,4 quilômetros e chegando a uma profundidade de 50 metros. Levou 11 horas e 23 minutos nessa travessia. E não chegou ao fim.

Os espeleomergulhadores precisam ser bem preparados para esse tipo de atividade, já que dentro das grutas não existe luz natural nem contato com a superfície. Sobre a cabeça, apenas um teto de pedra e, em alguns casos, bolsões de ar com gases tóxicos.

Enquanto faz o caminho “Terra adentro”, o mergulhador pode ter a companhia de animais conhecidos como troglóbios. Adaptados a ambientes sem luz, são animais sem olhos nem pigmentação, como a piabinha-cega (Stygichthys typhlops), encontrada nas cavernas de Minas Gerais.

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3. Passado submerso

Uma das coisas que estão debaixo d’água é o nosso passado. Mares mudam de lugar, rios alagam, navios afundam. E, cada vez que algo assim acontece, um pedaço da história humana vai parar lá onde ninguém consegue ver. Tem muita gente ao redor do mundo mergulhando em busca do passado. No Brasil inclusive. O arqueólogo Gilson Rambelli, do Centro de Arqueologia Subaquática da Unicamp, está atualmente mapeando os sítios arqueológicos submersos na região da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e se preparando para retomar as pesquisas no fundo de um lago na Amazônia paraense, onde foram encontrados painéis com gravuras rupestres e peças de cerâmica.

O centro pesquisa naufrágios, cidades inteiras embaixo de represas e sambaquis – pilhas de conchas e restos animais que são indícios de ocupação pré-histórica na costa brasileira. Um dos projetos envolve mergulhos na antiga vila de São Vicente, no litoral de São Paulo, a mais antiga cidade brasileira. Em 1541 essa primeira vila foi destruída pelo que deve ter sido a única ocorrência de tsunami no Brasil. Depois do maremoto formaram-se lagos, e é possível que algumas das construções da cidade estejam preservadas debaixo d’água até hoje.

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4. Mapa em branco

O Ártico está entre as grandes áreas ainda em branco no mapa dos oceanos. Quase nada se conhece sobre o fundo dele. Mas sabe-se que, há 65 milhões de anos, o Ártico se isolou dos demais oceanos, o que pode ter feito com que sua fauna tenha evoluído de maneira independente. Isso transformaria a região em um equivalente submarino à Austrália, com sua fauna superexclusiva.

Em 2001, uma equipe comandada pelo pesquisador Henry Dick encarou os mares gelados. Com a ajuda de AUVs (veículos submarinos autônomos), Dick recolheu do fundo do mar rochas que não costumam ser encontradas na superfície da Terra, e sim no seu interior. Para dar continuidade ao projeto, uma nova expedição está sendo organizada para 2006, com equipamentos bem mais avançados.

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Um deles é o HROV (veículo híbrido remotamente operado), que está sendo desenvolvido pelo Instituto de Oceanografia de Woods Hole, nos Estados Unidos. A previsão é que ele esteja pronto no final do ano. Antes de ir ao Ártico, o HROV estreará em grande estilo: vai descer a 11 mil metros de profundidade para analisar o fundão do mar – a Fossa das Marianas, no Pacífico.

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