Passarinhos também mudam de voz quando “conversam” com seus filhotes
Aves cantam mais devagar e reduzem "vocabulário" quando se comunicam com seus pequenos.
Da próxima vez em que você se sentir ridículo balbuciando sílabas infantis para um bebê, conforme-se: não é você que é bobo, a natureza é assim mesmo. O hábito de mudar a voz, exagerar nas repetições e falar mais devagar com filhotinhos – aquilo que em inglês se chama de “baby talk” – não é nem exclusividade humana. Pássaros cantores, outro animal que, como nós, se caracteriza pela complexidade de suas vocalizações, fazem a mesma coisa.
A descoberta é do neurobiólogo Jon Sakata, da Universidade McGill, no Canadá. Estudando os pequenos tentilhões-zebra, uma espécie de passarinho cantor da Austrália, ele notou que os filhotes aprendiam a cantar melhor e mais rápido quando conviviam com adultos. Aí Sakata se pôs a estudar a conversa entre pais e filhos. “Descobrimos que os tentilhões adultos cantam mais devagar quando estão com filhotes. Eles aumentam o intervalo entre frases e repetem elementos do canto”, disse Sakata ao site da universidade. Exatamente como os humanos ensinando os bebês a falar.
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A pesquisa confirma a tese de que o aprendizado da linguagem é um processo mais complexo do que se supunha. Não são só as crianças que vão aprendendo a falar cada vez mais como os adultos – os adultos também modificam sua fala, para se aproximar das crianças, como que convidando-as para a conversa.
Sakata foi além e investigou a química do cérebro dos passarinhos. Descobriru que os filhotes que escutavam adultos cantando tinham quantidades maiores de dopamina e norepinefrina, neurotransmissores ligados à motivação e à atenção. É indício de que falar feito bebê realmente tem um efeito fisiológico poderoso nos filhotes. E isso vale para passarinhos tanto quanto para pessoas.