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Pessoas que vivem mais de 105 anos podem ter variantes genéticas que reparam DNA

Pesquisa realizada na Itália sequenciou o genoma de 81 centenários e encontrou mudanças na expressão de três genes que podem explicar a longevidade.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 3 ago 2022, 11h06 - Publicado em 14 Maio 2021, 12h22

A Itália atrai pesquisadores de todo o mundo para estudar longevidade. Só a ilha de Sardenha, no oeste do país, possui de duas a três vezes mais centenários que o resto da Europa. Diversos estudos relacionam o estilo de vida e alimentação à longevidade, mas um grupo de cientistas da Universidade de Bolonha resolveu procurar respostas no DNA dos idosos.

A equipe sequenciou o genoma completo de 81 centenários na península itálica. Destes, 76 tinham mais de 105 anos (os chamados semi-supercentenários) e cinco tinham mais de 110 (supercentenários). Esses genomas foram comparados com um grupo controle de 36 pessoas saudáveis e mais jovens da mesma região, com média de 68 anos.

(É claro que as pessoas do grupo controle também podem alcançar os 100 anos no futuro. Mas considerando que, mesmo na Sardenha, apenas 24 em cada 100 mil habitantes atingem a marca, é pouco provável que uma pessoa escolhida aleatoriamente calhe de se tornar centenária.)

Sequenciar o genoma nada mais é que soletrar todas as “letras” do material genético de alguém. O DNA é composto pelas bases nitrogenadas adenina (A), guanina (G), citosina (C) e timina (T), repetidas bilhões de vezes de forma única em cada indivíduo. Alguns blocos dessas letras formam genes, que são as porções do DNA que codificam proteínas.

Os genes que codificam a cor dos olhos, por exemplo, são praticamente idênticos em todo mundo. No entanto, as pessoas possuem algumas poucas letras de diferença entre si – você pode ter um T no ponto em que seu vizinho tem um C. É isso que os pesquisadores chamam de variantes genéticas. Neste exemplo, elas podem definir se as células do olho vão produzir mais ou menos melanina, e consequentemente, se você terá olho de cor escura ou clara.

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O que a equipe da Universidade de Bolonha encontrou foram cinco variantes genéticas mais comuns nos centenários do que no grupo controle. Os cientistas compararam os resultados com um estudo anterior, que sequenciou o DNA de 333 italianos com mais de 100 anos, e também verificaram a presença das variantes.

Análises computacionais feitas pela equipe apontaram que as variantes provavelmente influenciam a expressão de três genes. O primeiro deles é o STK17A. Ele está envolvido em três funções importantes para a saúde das células: coordenar a resposta celular quando ocorre dano no DNA, induzir células danificadas a iniciarem um processo de morte programada e controlar a quantidade de espécies reativas de oxigênio dentro da célula – em excesso, elas podem danificar a estrutura celular. As variantes encontradas provavelmente intensificam a atuação desse gene.

É normal que as moléculas de DNA sofram pequenos danos ao longo da vida. Por isso, existem mecanismos (como os do gene STK17A) que servem para reparar esses estragos. Se não forem consertados, eles podem contribuir para a evolução de condições como câncer, Alzheimer e doenças cardíacas – que contribuem para a redução da longevidade.

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As variantes também reduzem a atividade do gene COA1, que é importante para a mediação entre o núcleo da célula e a mitocôndria. Isso deve reduzir possíveis disfunções na produção de energia da mitocôndria, algo que está relacionado ao envelhecimento.

Um terceiro gene, chamado BLVRA, também tem sua atividade aumentada pelas variantes. Assim como o STK17A, ele elimina espécies reativas de oxigênio que podem danificar a célula.

“Mecanismos de reparo de DNA são extremamente eficazes nessas pessoas”, disse o pesquisador Claudio Franceschi, em entrevista à revista New Scientist. “Esse é um dos mecanismos básicos mais importantes para prolongar o tempo de vida”.

Para verificar se os centenários de fato tinham menos alterações danosas no DNA, os pesquisadores compararam ainda a quantidade de mutações que costumam ocorrer naturalmente ao longo da vida. De fato: as pessoas com mais de 105 anos tinham menos mutações em seis de sete genes analisados. 

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Em resumo: se você quiser viver por mais tempo, valem as dicas de sempre, como se alimentar bem, praticar exercício físico regularmente e manter uma rotina saudável. Mas quando o assunto é ultrapassar a marca dos 100 anos, talvez nascer com as variantes genéticas certas fale mais alto.

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