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Resíduos em cerâmicas revelam os ingredientes das mumificações

Entre os materiais diversos usados em embalsamentos no Egito, há resinas e óleos trazidos da África e da Ásia.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 2 fev 2023, 17h59 - Publicado em 2 fev 2023, 17h58

Em 2018, cientistas descobriram uma oficina de embalsamento na necrópole de Saqqara, no Egito. Junto dela estavam copos de medida, potes de cerâmicas e cinco corpos mumificados.

“Estamos diante de uma mina de ouro de informações”, disse Ramadan Badry Hussein. Na ocasião, ele era diretor do Saqqara Saite Tombs Project, que supervisionava a escavação.

Agora, cinco anos mais tarde, pesquisadores publicaram na revista científica Nature algumas das informações descobertas. E elas eram impressionantes. 

Analisando o resíduo das cerâmicas por meio de técnicas biomoleculares, os cientistas conseguiram novos vislumbres de como os egípcios mumificavam seus mortos.

Na oficina, muitos dos jarros de cerâmicas, copos de medida e tigelas recebiam inscrições de acordo com seu conteúdo ou seu uso. Os pesquisadores examinaram 31 dos 121 recipientes encontrados, e assim foram capazes de determinar os ingredientes do embalsamento.

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Embora conhecessem os nomes das substâncias utilizadas, os cientistas antes só eram capazes de supor do que cada uma delas era exatamente feita. O que era nomeado pelos egípcios como antiu, por exemplo, costumava ser traduzido como mirra ou incenso. Agora, os pesquisadores são capazes de afirmar que se tratava de uma mistura de vários ingredientes diferentes. Mais especificamente, óleo de cedro, óleo de zimbro ou cipreste e gordura animal – embora a mistura possa variar de lugar para lugar e de tempos em tempos.

Alguns recipientes vinham com instruções específicas de como cada mistura era usada: como “para colocar na cabeça”, “para fazer bandagem ou embalsar” e “para tornar seu odor agradável”. Com essas informações, somadas ao conteúdo de cada pote, os pesquisadores determinaram como cada mistura era usada.

Foto de vários recipientes de cerâmica.
Alguns dos potes encontrados na oficina. (M. Abdelghaffar/Saqqara Saite Tombs Project, University of Tübingen/Divulgação)
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Oito recipientes diferentes davam instruções sobre o tratamento da cabeça do falecido; resina de plantas do gênero Pistacia e óleo de rícino eram dois ingredientes que só apareciam nesses vasos, muitas vezes associados em uma mistura com outros elementos, como resina de elemi, óleo vegetal e cera de abelha. Gordura animal e resina de plantas da família Burseraceae (como a mirra e o incenso) foram usadas para lidar com o cheiro do corpo em decomposição. Já a gordura animal e cera de abelha visavam tratar a pele no terceiro dia de tratamento. Óleos de árvores ou alcatrões, juntamente com óleo vegetal ou gordura animal, poderiam ser usados ​​para tratar as bandagens usadas para o embalsamento, encontrados em mais oito vasos.

“Eu fiquei fascinado com esse conhecimento de química”, afirma o arqueólogo Philipp Stockhammer, um dos autores do estudo. “Eles sabiam quais substâncias deveriam pôr na pele – antibacteriano e antifúngico – para ela ficar o mais preservada possível; mesmo sem ter qualquer conhecimento microbiológico, sem nem ao menos saber sobre bactérias.”

Os resíduos também revelam características peculiares sobre o comércio da época. Betume natural, uma substância semelhante ao alcatrão, teria vindo do Mar Morto. Resinas de zimbro e cipreste e resina de Pistacias provavelmente foram provenientes da costa leste do Mediterrâneo. Eles também usaram resina de elemi, uma árvore que cresce nas florestas tropicais da África e da Ásia.

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O mais intrigante é que os cientistas descobriram a resina dammar, que vem de uma família de árvores que cresce nas florestas da Índia e do Sudeste Asiático. Como a árvore de onde é tirada a resina de elemi também cresce no sudeste da Ásia, os pesquisadores acreditam que essas duas resinas fizessem a mesma rota de importação; demonstrando um grande esforço em adquirir os ingredientes certos – ou os mais exóticos – para o embalsamento.

A equipe vai continuar trabalhando com os outros 90 recipientes recuperados da oficina. “Graças a todas as inscrições nos vasos, no futuro seremos capazes de decifrar ainda mais o vocabulário da química egípcia antiga que não entendíamos suficientemente até o momento”, afirma Stockhammer.

Infelizmente, Hussein, arqueólogo membro do estudo que liderava a escavação, faleceu no ano passado – antes de seu trabalho ser completo.

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