Rios de lava sugerem que Vênus pode ter tanta atividade vulcânica quanto a Terra
Fluxos de lava foram identificados em imagens de radar do início da década de 1990, indicando que Vênus pode ser mais geologicamente ativo do que se imaginava
Entre 1990 e 1992, a Terra passava por várias mudanças. O telescópio espacial Hubble foi lançado, a Alemanha foi reunificada, Mercosul e União Europeia surgiram, e a União Soviética caiu.
Nosso planeta vizinho, Vênus, também estava passando por algumas transformações tectônicas nessa época. Algumas delas foram identificadas por pesquisadores: fluxos de lava que podem apontar para um planeta com vulcanismo bem mais ativo do que se imaginava.
As imagens analisadas por pesquisadores da Universidade D’Annunzio, na Itália, vêm do veículo espacial Magellan, da Nasa, que sobrevoou toda a superfície de Vênus entre 1990 e 1994. O estudo foi publicado por Davide Sulcanese e colegas no periódico Nature Astronomy. Eles reanalisaram os dados da expedição para procurar por atividade vulcânica.
Vulcões em Vênus
Vênus é mais ou menos do tamanho da Terra, com 12 mil quilômetros de diâmetro. Só que sua superfície equivale a três vezes toda a área seca do nosso planeta. Se imaginava que seus níveis de calor interno fossem semelhantes aos nossos, o que poderia levar a atividade tectônica e vulcânica. Como isso não era observado, Vênus era considerado um planeta geologicamente morto.
Isso mudou no ano passado. Também usando os dados da espaçonave Magellan, outros pesquisadores encontraram uma erupção vulcânica em Vênus, a primeira evidência de atividade vulcânica no planeta. Agora, os fluxos de lava ajudam a sedimentar a teoria de que o nosso planeta vizinho pode ser tão vulcanicamente ativo quanto a Terra.
As novas evidências de vulcanismo foram encontradas nas encostas ocidentais do vulcão Sif Mons (não confundir com os vilões de Star Wars) e da região plana cheia de respiradouros vulcânicos Niobe Planitia (não confundir com o nióbio, metal que o Brasil domina a produção mundial).
Radar pixelado
As imagens de radar do Magellan mostram traços longos e sinuosos. Os astrônomos questionaram se eles poderiam ser deslizamentos de terra, mas o estudo da topografia local mostrava que aqueles traços estavam se espalhando pela superfície, como líquidos. Isso acontecia em áreas relativamente planas, onde deslizamentos de terra não são esperados.
A melhor explicação para o fenômeno, então, seriam os fluxos de lava. Mas foi difícil chegar nela: as imagens do Magellan, como uma boa câmera digital dos anos 1990, são de baixa resolução, e a enorme área de Vênus deixou a análise dos dados ainda mais difícil.
Porém, é provável que muito mais evidências de atividade vulcânica sejam descobertas em Vênus nos próximos anos. As áreas onde foram encontrados os fluxos de lava serão reanalisadas com o lançamento da missão VERITAS, da Nasa, e EnVision, da Agência Espacial Europeia, que devem ir para Vênus no começo da próxima década.