Rússia é o primeiro país a aprovar uma vacina contra a Covid-19 para animais
O imunizante foi testado em cães e gatos – mas o seu principal alvo são bichos criados em fazendas de pele.
Na última quarta-feira (31), o Serviço Federal de Supervisão Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) anunciou o registro da primeira vacina contra a Covid-19 destinada a animais. O objetivo é usá-la em fazendas de pele (que criam animais para produzir casacos, por exemplo), ou em cães e gatos domésticos.
A vacina Carnivak-Cov foi desenvolvida por cientistas do Centro Federal de Saúde Animal, subordinado ao Rosselkhoznadzor. Segundo o chefe-adjunto da agência, Konstantin Savenkov, os testes clínicos começaram em outubro de 2020 envolvendo cães, gatos, raposas-do-ártico, minques e outros animais. Ele afirma que o imunizante é seguro e todos os animais desenvolveram anticorpos contra o coronavírus, embora os estudos ainda não tenham sido publicados.
O imunizante é destinado a animais carnívoros. Os pesquisadores estimam que a resposta imunológica dure pelo menos seis meses, porém mais estudos ainda devem ser feitos para verificar a eficácia a longo prazo. A produção em massa deve começar já em abril, segundo o comunicado.
A agência russa também relembra que não há evidências científicas de que animais de estimação, como cães e gatos, possam transmitir o vírus para humanos, como já foi ressaltado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
No entanto, existem casos de gatos, cães e até um tigre de um zoológico de Nova York que testaram positivo para o vírus. A Coreia do Sul, por exemplo, decidiu começar a fazer testes em animais de estimação e colocá-los em isolamento após o registro do primeiro caso de um gato infectado no país, em janeiro deste ano. Esses animais dificilmente apresentam sintomas e não têm praticamente nenhum impacto nas taxas atuais de transmissão da Covid-19, já que geralmente são os humanos que passam o vírus para eles.
Os principais alvos da nova vacina são, de fato, os animais criados em fazendas de pele. Diversos minques (primos das doninhas e furões) foram diagnosticados com o vírus ao longo de 2020. Eles geralmente vivem aglomerados em gaiolas e em contato constante com as pessoas que cuidam deles. Eles não só são os primeiros animais a morrer pela infecção, mas também a passar de volta o vírus aos humanos. O Ministério da Saúde da Dinamarca registrou alguns casos de transmissões do tipo.
A preocupação é que esses animais possam servir como reservatórios, onde o coronavírus pode sofrer mutações danosas para nós. Nos casos da Dinamarca, por exemplo, o vírus já havia acumulado algumas mutações na proteína spike, que se liga às células humanas.
A relação entre minques e o Sars-CoV-2 ainda precisa ser investigada a fundo, mas os pesquisadores já sabem que não é uma boa ideia que o vírus fique saltando de uma espécie para a outra. Nesta semana, a OMS concluiu que o Sars-CoV-2 provavelmente surgiu em morcegos e infectou humanos a partir de um animal intermediário – ainda desconhecido. Vale lembrar também que as infecções causadas no passado por outros coronavírus em humanos, por exemplo, também tiveram origem em animais silvestres.
Após surtos nas fazendas, a Dinamarca sacrificou todos os minques criados por lá – um total de 17 milhões de animais. Casos também foram identificados em fazendas dos Estados Unidos, Holanda, França, Espanha e outros países da Europa. Segundo o comunicado russo, criadores de países como Grécia, Polônia e Áustria já estão interessados em comprar a Carnivak-Cov.