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Singularidade

O futuro enloqueceu?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 jul 2003, 22h00

Rafael Kenski

Nenhum dos cientistas que se arriscam a prever o futuro sabe bem o que acontecerá daqui a algumas décadas, mas muitos deles já têm uma palavra para descrever o que vem por aí: “singularidade”. A idéia é que tecnologias de várias áreas evoluem cada vez mais aceleradamente, se integrando e mudando rapidamente a realidade. Em um dado momento – a tal da singularidade –, a curva da evolução ficaria tão vertical que ultrapassaria o limite do próprio gráfico. É impossível saber o que viria depois. Esse momento está previsto por esses gurus para chegar entre 2010 e 2140.

O termo “singularidade” foi emprestado da física. Lá, ele designa fenômenos tão extremos que as equações não são mais capazes de descrevê-los. Um exemplo são os buracos negros, lugares de densidade infinita, que levam as leis da ciência ao absurdo. Ou seja, a singularidade é um nome bonito que exprime tudo o que está além da nossa capacidade de cognição e previsibilidade. O conceito virou a palavra do momento entre os futurologistas porque muitos acreditam que nosso progresso científico também pode atingir esse grau extraordinário. A idéia surgiu em 1950, com o matemático húngaro John von Neumann, um dos criadores do computador e um dos maiores cientistas do século, que disse que as tecnologias poderiam chegar a um ponto além do qual “os assuntos humanos, da forma como os conhecemos, não poderiam continuar a existir”.

Desde então, a evolução rápida de várias tecnologias é um dos argumentos de que a humanidade pode mesmo um dia chegar a esse momento da virada. Essa evolução parece seguir uma lógica. Um dos primeiros a notar isso foi o engenheiro Gordon Moore, um dos fundadores da Intel, que formulou aquela que ficou conhecida como a Lei de Moore. Segundo a tal lei, o número de transistores em um mesmo espaço (e por conseqüência a capacidade de processamento dos chips) dobra a cada 18 meses. Ou seja, é uma progressão geométrica: cada vez o ritmo do avanço fica maior (se no primeiro período de 18 meses a tal capacidade aumenta de 1 para 2, no vigésimo ela crescerá absurdamente mais: de 524 288 para 1 048 576). É o que mostra o gráfico à direita. Isso significa uma progressão absurda a partir de um ponto, cada vez mais tendendo ao infinito.

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Não é só na informática que os especialistas vêem esse fenômeno. A nanotecnologia, a genética e a robótica têm evoluído em ritmo parecido, fornecendo umas às outras ferramentas para progredirem ainda mais. O resultado disso? “Por causa da taxa explosiva de desenvolvimento, o crescimento tecnológico no século 21 será equivalente a 20 mil anos de progresso na velocidade atual”, diz o inventor e empresário Ray Kurzweil, autor do livro The Singularity is Near (“A Singularidade Está Próxima”), a ser lançado nos Estados Unidos ainda este ano.

O que ninguém sabe é que evento desencadeará essa revolução nem como ela irá transcorrer, mas vários cenários já foram formulados. É claro que tudo isso é teoria. Há quem ache que nada disso acontecerá – pode ser que os cientistas encontrem uma barreira tecnológica intransponível, que não consigam muita coisa além de umas máquinas mais ligeiras, que não exista demanda para computadores mais avançados ou que todas essas pesquisas acabem em uma enorme tragédia. Qualquer que seja a alternativa, a única certeza é que a humanidade terminará o próximo século muito diferente de como começou.

Progresso alucinante

Alguns possíveis caminhos para a explosão técnológica

BIOTECNOLOGIA

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HOMENS PÓS-HUMANOS

A maior parte dos caminhos propostos para a singularidade passa pela biotecnologia – e a incrível velocidade com que ela tem evoluído é tida como uma prova de que um dia chegaremos lá. Podemos, por exemplo, encontrar uma forma de aumentar a eficiência do nosso cérebro ou de nos ligar a computadores para unir a nossa criatividade à capacidade de processamento deles

TELECOMUNICAÇÕES

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TODOS COMO UM SÓ

“Cada vez que nossa habilidade de transmitir informações aumenta, temos um ganho de inteligência”, diz o escritor americano Vernor Vinge no artigo “The Technological Singularity” (a singularidade tecnológica), um clássico sobre o tema. No futuro, poderão existir meios de comunicação mais eficazes que a escrita e a fala

NANOTECNOLOGIA E ROBÓTICA

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ANIMAIS MECÂNICOS

A possibilidade de criar máquinas capazes de se fundir a sistemas orgânicos e estender as nossas capacidades ou realizar serviços para nós seria uma das formas de acelerar o desenvolvimento. Outra seria avançar a nanotecnologia a ponto de construir objetos átomo por átomo – há quem acredite que, com isso, poderíamos até montar um cérebro humano artificial. Ou um homem inteiro

COMPUTAÇÃO

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ACELERAÇÃO AO INFINITO

O que aconteceria se tivéssemos computadores tão inteligentes quanto nós e que fossem capazes de construir processadores ainda mais rápidos? A princípio, a capacidade deles dobraria a cada 18 meses – a mesma velocidade com que evoluem hoje. Como estarão mais rápidos, passarão a dobrar a cada nove meses, daí 4,5 meses e, umas gerações depois, lá está a singularidade

CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO

EXPLOSÃO DE BITS

A velocidade dos computadores cresce de forma exponencial e, por isso, teremos dentro de alguns anos uma evolução aceleradíssima. Para o inventor Ray Kurzweil, um computador de mil dólares tem hoje a mesma inteligência de um inseto. No futuro, ele se igualará à capacidade de um rato, de um homem e, finalmente, de toda a humanidade

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