T. rex adolescente ou uma nova espécie? Cientistas desvendam mistério dos fósseis de “mini-tiranossauros”
Por décadas, ossos achados nos EUA dividiram pesquisadores. Agora, um novo estudo traz um plot twist na história do predador mais estudado pela paleontologia.
Por quase um século, paleontólogos debateram se pequenos fósseis de tiranossauros eram apenas exemplares jovens do temido Tyrannosaurus rex ou se, na verdade, pertenciam a uma espécie distinta – o Nanotyrannus.
Agora, um estudo publicado na revista Nature parece encerrar a disputa. O tiranossauro de porte médio fossilizado junto a um tricerátopo no famoso fóssil dos “Dinossauros Duelando”, encontrado no estado norte-americano de Montana, foi identificado como um Nanotyrannus lancensis adulto – ou seja, uma espécie distinta do clássico T. rex.
A história do Nanotyrannus remonta a mais de 80 anos. Em 1942, paleontólogos encontraram na Formação Hell Creek, em Montana, o crânio de um pequeno terópode de dentes afiados. O fóssil foi inicialmente classificado como um Gorgosaurus, mas em 1988 passou a ser descrito como uma nova espécie: Nanotyrannus lancensis.
A reclassificação dividiu a comunidade científica. Muitos pesquisadores acreditavam que o suposto Nanotyrannus não era uma espécie independente, e sim apenas um T. rex adolescente. A polêmica se intensificou com a descoberta de outros fósseis de pequeno porte, como o esqueleto apelidado de “Jane”, encontrado em 2001 e atualmente exposto no Museu Burpee de História Natural, em Illinois. Para boa parte dos especialistas, Jane seria apenas um T. rex jovem.
O debate começou a mudar em 2006, quando caçadores de fósseis comerciais descobriram, também em Montana, um tricerátopo e um pequeno tiranossauro fossilizados juntos em uma aparente luta. O achado ficou conhecido como os “Dinossauros em Duelo”. A dupla foi sepultada por enchentes ou avalanches de areia há cerca de 67 milhões de anos, pouco antes do impacto do asteroide que pôs fim ao reinado dos dinossauros não-avianos.
Durante mais de uma década, porém, o fóssil permaneceu inacessível devido a uma longa disputa judicial sobre sua propriedade. Apenas em 2020 ele foi adquirido pelo Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte (NCMNS), o que finalmente permitiu sua análise científica.
Com o fóssil em mãos, Lindsay Zanno, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, e James Napoli, da Universidade de Stony Brook, iniciaram uma análise detalhada. Eles examinaram o esqueleto, comparando-o com mais de 200 outros fósseis de tiranossauros, e estudaram anéis de crescimento dos ossos, fusões vertebrais e padrões anatômicos.
Os resultados mostraram que o tiranossauro tinha cerca de 20 anos quando morreu, o que significa que já era um adulto totalmente desenvolvido, não um juvenil. O animal pesava cerca de 700 quilos e media aproximadamente seis metros.
As diferenças em relação ao T. rex eram claras: braços proporcionalmente mais longos, mais dentes, menos vértebras na cauda e padrões cranianos distintos. “Quando finalmente tivemos a oportunidade de estudá-lo, percebemos rapidamente que havia muitos problemas em tratá-lo como um T. rex jovem”, disse Zanno à Science.
“Para que o Nanotyrannus fosse um T. rex juvenil, ele precisaria desafiar tudo o que sabemos sobre o crescimento dos vertebrados”, afirmou Napoli em comunicado. “Não é apenas algo improvável – é impossível.”
Com base nessas evidências, os pesquisadores reexaminaram o esqueleto de “Jane”. A comparação indicou que o animal era, na verdade, um Nanotyrannus jovem, mas com um plot twist: de uma espécie diferente do exemplar dos “Dinossauros em Duelo”. Eles batizaram essa nova espécie de Nanotyrannus lethaeus, em referência ao rio Lete, da mitologia grega, cujas águas faziam as almas esquecerem suas vidas passadas – uma metáfora para um dinossauro que permaneceu “esquecido à vista de todos” por décadas.
Os dados sugerem que múltiplas espécies de tiranossauros coexistiram na América do Norte no final do Cretáceo. O Nanotyrannus, mais leve e ágil, teria ocupado um nicho ecológico diferente do do colossal T. rex, possivelmente caçando presas menores.
“Nanotyrannus era um predador completamente diferente: pequeno, esguio, extremamente rápido, com grandes braços predatórios”, disse Zanno à Science News. Já o T. rex era robusto, de constituição pesada, com uma mordida poderosa e uma cabeça enorme. “A descoberta pinta um quadro mais rico e competitivo dos últimos dias dos dinossauros”, acrescentou a pesquisadora.
Mesmo entre antigos céticos, o estudo vem mudando opiniões. Steve Brusatte, da Universidade de Edimburgo, reconheceu ao Guardian que as novas evidências são “sólidas” e que “pelo menos em parte” estava errado ao considerar todos os tiranossauros menores como juvenis de T. rex. Ainda assim, ele pondera que alguns exemplares pequenos podem, de fato, ser jovens do gigante.
Scott Williams, do Museu das Montanhas Rochosas, concorda que o tiranossauro em duelo é um Nanotyrannus, mas acredita que a discussão não terminará tão cedo. “Sem mais espécimes”, disse à Science, “há uma boa chance de eu estar velho – e esse debate ainda estar em curso.”
A confirmação do Nanotyrannus traz implicações importantes para a paleontologia. Durante décadas, fósseis hoje atribuídos a essa espécie serviram de base para estudos sobre o crescimento e o comportamento do T. rex, o que significa que parte dessas pesquisas pode precisar ser reavaliada à luz da nova conclusão.
A descoberta também reabre uma questão ainda sem resposta: se o Nanotyrannus era realmente uma espécie distinta, ainda não se sabe como eram os verdadeiros adolescentes de T. rex.
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