Temperaturas anormais levam a 5 milhões de mortes por ano, indica estudo
Pesquisadores analisaram dados de 750 locais ao redor do mundo referentes ao período de 2000 a 2019 para medir o impacto das variações climáticas nas taxas de mortalidade.
Temperaturas anormais relacionadas às mudanças climáticas podem ser a causa de mais de 5 milhões de mortes por ano em todo o mundo, segundo estudo liderado pela Universidade Monash, na Austrália, e publicado na revista The Lancet Planetary Health.
A equipe internacional de pesquisadores analisou dados de 2000 a 2019 – um período em que as temperaturas globais aumentaram 0,26 °C por década – e constatou que as mortes por temperaturas elevadas aumentaram em todas as regiões estudadas. Não só as temperaturas quentes levaram às mortes: o frio fora do comum também se mostrou fatal.
Para a pesquisa, os cientistas analisaram 750 lugares de 43 países ao redor do mundo. Eles usaram dados referentes à temperatura e às taxas de mortalidade desses locais referentes ao período citado, de 19 anos.
As temperaturas anormais, quentes ou frias, foram identificadas a partir de faixas de temperaturas usuais de cada região estudada, de acordo com suas características climáticas.
Enquanto isso, as mortes que podem ser atribuídas a essas variações climáticas foram estimadas a partir dos aumentos anuais das taxas de mortalidade em cada local. Os cientistas identificaram o que se chama de “excesso de mortes” – o número de mortes ocorridas além da média, do número esperado em condições normais.
Segundo Yuming Guo, um dos autores principais da pesquisa, esse é o primeiro estudo a obter uma visão geral da mortalidade devido a condições de temperatura não ideais entre 2000 e 2019, “o período mais quente desde a era pré-industrial”.
“É importante ressaltar que usamos dados de 43 países em cinco continentes com diferentes climas, condições socioeconômicas e demográficas, níveis de infraestrutura e serviços de saúde pública. Portanto, o estudo teve um tamanho de amostra grande e variado, ao contrário de estudos anteriores”, afirma o pesquisador.
O estudo concluiu que 9,43% das mortes globais podem ser atribuídas a temperaturas anormais, quentes ou frias – o que equivale a 74 mortes em excesso para cada 100 mil pessoas. Um estudo anterior, que usou um conjunto de dados menos abrangente, estimou 7,71%, por exemplo.
A mortalidade em excesso variou geograficamente. A Europa Oriental teve a maior taxa de mortalidade excessiva relacionada ao calor, enquanto a África Subsaariana teve a maior taxa relacionada ao frio.
Os cientistas também perceberam que as mortes relacionadas a temperaturas mais frias diminuíram em 0,51% durante o período estudado. Enquanto isso, as mortes relacionadas ao calor excessivo aumentaram 0,21%
Com o aquecimento global, Guo explica que, no longo prazo, espera-se que as mudanças climáticas aumentem o número de mortes, principalmente a partir das temperaturas quentes além do comum.
Os pesquisadores escreveram que, por conta das inevitáveis mudanças climáticas, é urgente obter dados como estes e fornecer uma visão global da mortalidade – para, então, desenvolver estratégias em todo o mundo contra as temperaturas anormais e seus impactos na saúde.