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Trocássemos a Amazônia pela dívida pública?

A resposta é que sairíamos perdendo. Se o motivo para a troca fosse só financeiro, já seria um mau negócio.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 31 ago 2002, 22h00

Valmir Storti / Rodrigo Vergara / Adriano Sambugaro

A dívida pública brasileira é o novo inimigo nacional. Considerada a responsável pela fuga de dólares e pelo descrédito do país, a dívida – que é a soma das dívidas dos governos federal, estadual e municipal e das empresas estatais, estimada em 232 bilhões de dólares – parece uma ameaça à viabilidade econômica do país. Diante dessa visão, quem já não pensou em uma saída radical, como trocá-la por um patrimônio nacional? E se a trocássemos pela Amazônia?

A resposta é que sairíamos perdendo. Se o motivo para a troca fosse só financeiro, já seria um mau negócio. De acordo com Ademar Ribeiro Romeiro, professor de Economia da Universidade Estadual de Campinas e chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélites, a maioria das riquezas amazônicas continua desconhecida. Mas mesmo os recursos já descobertos – madeira, minérios, turismo, medicamentos e cosméticos – já são mais valiosos que a nossa dívida. Só as jazidas minerais valem 7 trilhões de dólares. Detalhe: sem contar o petróleo. No entanto, o potencial da região é ainda maior. Estima-se que, se forem bem explorados seus variados recursos, a Amazônia poderá render ao Brasil, por ano, cerca de 1,3 trilhão de dólares.

Mas será que sobrará alguma floresta até lá? No atual ritmo de destruição, em 50 anos a mata terá desaparecido. Só nos últimos 20 anos, perderam-se 60 milhões de hectares, mais que a área de Minas Gerais. E o ritmo de destruição ainda é alto: cerca de 15 000 quilômetros quadrados de florestas são devastados todo ano. Ou seja, se alienar a Amazônia é desvantajoso, pior seria mantê-la brasileira para transformá-la em carvão.

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Mas pouca gente acredita que isso vá acontecer. O ritmo da devastação está diminuindo. E a área desmatada poderia ser aproveitada. “Na Amazônia existem 10 milhões de hectares de solo de primeira. Para comparar, toda a produção agrícola brasileira vem de 50 milhões de hectares desse tipo”, diz Romeiro.

Há outros aspectos a serem considerados, além do econômico. “A Amazônia tem importância ambiental e estratégica”, diz Paulo Barreto, diretor da Imazon, uma ONG que pesquisa a região amazônica. De fato, a região concentra, entre outras riquezas, quase 20% do estoque mundial de água potável, uma mercadoria valiosa e estratégica para qualquer população.

Mas os benefícios da quitação não suplantariam eventuais prejuízos decorrentes da perda da região? Afinal, o governo federal pagará, este ano, mais de 90 bilhões de reais só em juros da dívida (incluída a correção monetária). Se a pendenga fosse quitada, o governo poderia investir essa dinheirama em infra-estrutura, por exemplo. Ou poderia diminuir a carga de impostos, que hoje é a maior do mundo – 34% do que se produz no país vira imposto.

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Para Odair Abate, economista-chefe do Lloyds Bank TSB, a duração dessas vantagens dependeria muito de futuros governos. “Se um presidente começasse a gastar mais do que arrecada, voltaríamos a acumular dívida e, dessa vez, seríamos um país menos rico, porque não teríamos a Amazônia.”

Além disso, para não acumularmos uma nova dívida seria preciso sanear algumas contas do país. Hoje, remetemos mais dólares ao exterior (para pagar importações e remunerar o lucro de multinacionais instaladas no Brasil) do que recebemos por nossas exportações, sem contar o pagamento de juros. Se essa conta não for revertida, o governo teria que continuar a oferecer juros para atrair dólares. E uma nova dívida nasceria.

Não bastasse isso, se alienássemos a Amazônia, teríamos um aumento nas importações. Cerca de 85% da madeira amazônica é consumida no Brasil. Outro exemplo: a hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, é uma das principais fontes de energia para o Nordeste. Além do mais, o território brasileiro encolheria 60%. Seria melhor aumentar nossa exportação de produtos, não de terras.

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