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Usain Bolt corre meio torto, diz estudo

Cientistas notaram comportamentos distintos entre as pernas esquerda e direita do multi-campeão jamaicano - algo que se acreditava prejudicar a velocidade

Por Guilherme Eler
Atualizado em 11 mar 2024, 15h16 - Publicado em 28 jun 2017, 19h13

O segredo parecia estar na simetria: a fórmula para a aceleração e velocidade perfeitas já foi identificada pelos cientistas como dependente de joelhos simétricos. De acordo com o consenso científico, bater o pé no chão de forma ritmada é o melhor jeito de você atingir sua velocidade máxima. Quanto mais iguais forem o tempo de contato com o solo e a força aplicada no pisão por cada pé, maior a chance de se conseguir um movimento harmônico – que te fará, com sorte, disparar na frente do resto dos competidores.

Mas, quando a regra não vale para o homem mais rápido do mundo, é porque pode ser que não seja lá tão regra assim. Cientistas da Universidade Metodista Meridional, nos EUA, descobriram que o dono da marca dos 9s58 obtém quantidades diferentes de impulso em cada passada quando corre os 100m rasos. E o segredo de Bolt estaria exatamente no fato dos lados direito e esquerdo obedecerem mecânicas diferentes.

Essas pequenas mudanças não são facilmente detectáveis pelo olho humano. Tanto que os pesquisadores tiveram que recorrer a vídeos de provas do velocista para analisarem o impacto de seus pés no chão da forma minuciosa como gostariam. Eles utilizaram uma gravação de uma prova da Diamond League, evento que antecedeu o Mundial de Atletismo de 2011. Foi criado também um modelo computacional só para o estudo, que conseguiu padronizar e comparar o desempenho de vários atletas diferentes.

O foco da pesquisa se concentrou em dois aspectos: a força e o tempo que o jamaicano voador apoiava seus pés na pista durante a prova. Com esses dois dados, podia-se quantificar o impulso em cada pé, ou seja, a maneira como o solo era empurrado para trás no movimento. Aí que se observou a desregularidade: uma perna acaba colocando mais força e permanecendo mais tempo no solo que a outra. A dinâmica fica bem clara neste vídeo: o primeiro pico de força, feito pelo pé esquerdo, não atinge nem às 1000 libras. O valor, no entanto, chega a quase 1100 libras para o pé direito.

“Se o atleta tem um impulso pequeno, não permanece com os pés no ar por tempo suficiente”, explica Peter Weyand, um dos autores do estudo. “Pesquisas anteriores mostraram que é preciso empurrar o chão muito forte se você mantiver o pé em contato com o chão por pouco tempo, se quiser correr em altas velocidades. Isso faz que a combinação entre empurrar forte o chão e deixar o pé no solo por pouco tempo seja uma característica dos velocistas mais rápidos do mundo”.

As novas descobertas permitem que os cientistas entendam melhor as formas de se atingir altas velocidades, uma vez que um desequilíbrio entre direita e esquerda era associado a perda de velocidade – e não a um desempenho digno de tricampeão olímpico.

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